Diante da escassez da oferta de papéis de dívida privada no mercado e com a deterioração disseminada da percepção de risco em relação ao Brasil, o que restringe as alternativas para compor os portfólios, os fundos de crédito estão mantendo um montante maior dos recursos em caixa. Outra questão que torna ainda mais difícil a gestão das carteiras é o fato de as companhias com títulos corporativos negociados no mercado secundário passarem por uma maior pressão para geração de receitas em um ambiente de dificuldade da economia, limitando o apetite dos gestores para comprar esse tipo de papel.
O vice-presidente da SulAmérica Investimento, Marcelo Mello, afirma que as opções para compor o portfólio dos fundos de crédito são poucas, situação agravada pela onda de downgrades das companhias, promovida pelas agências de classificação de risco, na esteira da piora dos fundamentos do Brasil. “Estamos acompanhando de perto os indicadores macro e analisando que mudanças podem ter do lado micro para saber se algum setor pode mostrar alguma recuperação. Hoje, o olhar está mais curto e com atenção aos ativos de maior qualidade. Ao mesmo tempo, a exposição de um fundo a um único ativo está menor, ou seja, o gestor está buscando uma diversificação ainda maior”, destaca o vice-presidente da SulAmérica Investimento.
A preferência, dessa forma, fica em manter o maior nível de caixa possível, o que garante também mais flexibilidade para os gestores em um momento da retomada das emissões no mercado, com taxas mais ajustadas ao atual cenário político e econômico. Além disso, essa espera pode evitar uma marcação a mercado de um ativo comprado no momento errado, o que colocaria uma pá de cal aos retornos previamente projetados. “De um lado, há a falta de oferta, com as empresas não emitindo dívida, e de outro, há o receio em aumentar a carteira por conta de uma eventual reprecificação dos ativos. Esses fatores estão deixando os gestores dos fundos crédito muito mais conservadores”, afirma o vice-presidente da SulAmérica Investimento, Marcelo Mello.
O diretor executivo de Investimento do Citi, Ennio Moraes, explica que um dos fatores que faz com que os gestores priorizem liquidez de seus fundos é o fato de os clientes estarem cada dia menos tolerantes aos riscos, o que torna obrigatório que um fundo esteja flexível e apto a movimentos rápidos. “Um dos objetivos é ser muito ativo na mudança de posição para evitar uma marcação a mercado que possa assustar o investidor”, destaca.
Moraes observa, contudo, que caixas mais elevados podem, à princípio, prejudicar a taxa de retorno dos fundos, o que faz com que fundos mais agressivos optem por terem uma carência maior. “Vimos uma abertura de prêmio, mas que ainda não reflete, em alguns casos, a capacidade de balanço”, destaca o especialista do Citi.
Oportunidades
No fim do ano passado, alguns gestores notaram uma janela para a compra de ativos, que foi a Asset do BTG buscando liquidez para fazer frente aos saques dos clientes que ocorreram após a prisão do ex-presidente do banco André Esteves, na última semana de novembro. Um gestor explicou que diante de um momento atípico, o BTG teve que vender ativos a taxas bastante atraentes e os gestores atentos conseguiram comprar bons papéis a bons preços, o que foi muito bem-vindo em função do cenário de mercado.
Ainda tendo em vista uma maior dificuldade em caçar bons ativos no mercado, alguns gestores estão buscando oportunidades no mercado nos Fundos de Direitos Creditórios (Fdic), de forma a suprir esse vazio deixado pelos demais papéis de dívida corporativa. “Estamos observando uma maior popularidade, tanto de fundos que entre os investimentos têm o Fdic ou fundos puros de Fdic”, afirma o responsável pela plataforma de fundos da XP Investimentos, Gustavo Pires. O especialista destaca que esse instrumento vem se tornando uma alternativa de funding para as companhias, com alguns ativos mostrando um retorno superior a outros produtos mais tradicionais, o que vem atraindo os gestores.
Diego Coelho, responsável pela área de Renda Fixa da Valora Gestão de Investimentos, nota que, na medida em que grandes companhias começam a utilizar o Fidc como ferramenta de captação ou para fomentar suas cadeias de fornecedores, por exemplo, em paralelo o interesse dos gestores começa a surgir. “Visto que o produto vem se tornando mais conhecido e as regras criadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) vêm anualmente aperfeiçoando o produto, acreditamos que o ativo bem selecionado pode trazer segurança e transparência para os fundos”, afirma Coelho. Segundo ele, dado o ambiente de restrição de crédito para as companhias, a tendência é de mais emissões desse instrumento ao longo deste ano.