Estadão

Futebol e teatro se misturam na abertura do festival MITsp

Depois de um ano no vácuo, a MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo volta na sua oitava edição, entre esta quinta-feira, 2, e dia 12. Em 2020, o evento se realizou em março, às vésperas de a pandemia do coronavírus paralisar o planeta. Para a abertura, desta vez, uma confraternização, no melhor espírito das aglomerações, promete ocupar o palco do Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, que será transformado em uma arena de futebol, paixão por excelência dos brasileiros incapaz de deixar o planeta indiferente.

O espetáculo Estádio, criado pelos franceses Mohamed El Khatib e Fred Hocké, usa o conceito de teatro documentário. O elenco não profissional reúne 30 torcedores do Racing Club de Lens, uma das principais torcidas organizadas da França, e outros 15 atores recrutados no Brasil. "El Khatib e Hocké dialogam em Estádio com a polarização: mesmo o outro querendo algo diferente não faz dele um inimigo", comenta o diretor artístico Antônio Araújo, responsável pela MITsp junto com Guilherme Marques.

Único menino em uma família de imigrantes marroquinos de cinco filhos, Mohamed El Khatib, de 42 anos, presta agora uma homenagem ao pai, responsável por despertar nele a paixão pela bola. O esporte fez parte de sua vida desde a infância e, na adolescência, chegou a custear seus estudos.

<b>PROFISSIONAL</b>

"Por volta dos 17 anos, recebi uma proposta de contrato profissional do Paris Saint-Germain, o que me levaria a abandonar meus estudos – hipótese logo rejeitada por meu pai", conta o encenador que, na faculdade, cursou sociologia e, frequentando o meio teatral, descobriu a sua segunda vocação.

El Khatib revela que levou uma vida dupla até os 30 anos. Era artista de segunda a sexta e jogava bola, de forma amadora e um pouco envergonhada, aos sábados e domingos. Duas lesões sucessivas nos joelhos, porém, serviram de cartão vermelho para os campos. "Eu não contava a ninguém sobre o futebol porque as pessoas do meio intelectual desprezam os esportes e, por isso, faço de Estádio uma reconciliação entre meus dois mundos", justifica. "Hoje, a sociedade sofre da falta de diversidade e o estádio é um lugar onde existe uma energia coletiva que não faz distinção, você pode abraçar alguém totalmente diferente porque estão compartilhando uma história em comum."

Não são poucas as conexões entre a arte dos palcos e a dos gramados enxergadas pelo francês. Para ele, teatro e futebol são rituais e, em ambos os casos, existe um público de especialistas e outro que tem dificuldade de entender explicações técnicas. Por isso El Khatib constrói cada uma de suas peças pensando em seu pai e sua mãe, que nunca pisaram em uma sala de espetáculos, mas que, se um dia tivessem ido, deveriam compreender cada uma das passagens da peça sem pedir explicações.

"É preciso democratizar a cena porque o teatro não é uma obrigação, podemos viver muito bem sem ele, mas só uma vanguarda preocupada em se dirigir ao público poderá refletir uma nova história e alcançar uma ampla comunicação", completa El Khatib, que se diz fã do futebol brasileiro e cita Sócrates, Romário, Rivaldo e Ronaldo como jogadores exemplares. "Por muito tempo, tentei imitar Roberto Carlos fazendo aquela curva com a bola que parece que está indo para fora e, no último momento, entra no gol. Só que, claro, nunca consegui."

<b>Programação foi adequada à realidade econômica brasileira</b>

Mesmo enxuta e adaptada à realidade econômica, a MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo sustenta o caráter provocativo com três atrações internacionais e quatro novidades brasileiras na programação oficial. A cena francesa, além de Estádio, é representada pelo monólogo O Martelo e a Foice, dirigido por Julien Gosselin, que pode ser visto no Teatro Paulo Eiró entre sexta, 3, e domingo, 5. O ator Joseph Drouet interpreta um sujeito preso por causa de um crime de corrupção.

Para completar a lista estrangeira, Vale da Estranheza, obra de Stefan Kaegi, suíço radicado na Alemanha, será apresentada no Sesc Belenzinho entre os dias 8 e 11 e promete polemizar ao estreitar os limites entre arte e tecnologia. O diretor dispensa atores e coloca no palco um robô, que ministra uma palestra sobre bipolaridade e o avanço científico.

História do Olho – Um Conto de Fadas Pornô Noir, espetáculo da atriz, diretora e dramaturga Janaina Leite, ocupa o Teatro Paulo Eiró entre os dias 10 e 12, como um destaque na programação nacional. Nas mesmas datas, a criação coletiva Antes do Tempo Existir reúne artistas indígenas e não indígenas no Teatro Cacilda Becker.

Eduardo Okamoto, Isa Kopelman, Marcelo Onofri e Daniele Sampaio fundem música e teatro em Um Jardim para Educar as Bestas, que poderá ser vista na Biblioteca Mário de Andrade nos sábados e domingos desta e da próxima semana. Por fim, o dramaturgo brasileiro Alexandre Dal Farra e o diretor argentino Lisandro Rodríguez lançam Tragédia e Perspectiva I – O Prazer de Não Estar de Acordo, reunindo cinco atores em sessões no Galpão do Folias da segunda, 6, ao domingo, 12.

As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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