O governo deveria repensar a ideia de retirar a obrigatoriedade de que a Petrobras atue como operadora única nas áreas do pré-sal concedidas em regime de partilha, defende o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli. Em vez disso, poderia estabelecer um prazo maior para retomar os leilões dessas áreas, a fim de aguardar o restabelecimento da saúde financeira da empresa. A legislação atual prevê que a Petrobras deve ter 30% de participação nos blocos e ser operadora única na exploração dessas áreas.
“Apenas você teria de adiar os leilões de novas áreas do pré-sal para 2018, 2019 para poder esperar a Petrobras ter capacidade (de investir)”, disse Gabrielli ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado. O ex-presidente da estatal está no plenário da Câmara dos Deputados acompanhando as discussões sobre o projeto de lei do Senado que retira a obrigatoriedade da Petrobras de atuar como operadora única do pré-sal.
Gabrielli reconhece que a Petrobras enfrenta problemas financeiros de curto e médio prazo e, até 2019, pode não ter capacidade de investir. Mas o ex-presidente ressaltou que a empresa não sofre de problemas estruturais. “À medida que os preços do petróleo retornem, e provavelmente crescerão, e ao mesmo tempo haja o equacionamento de curto prazo da dívida da Petrobras, ela pode retomar os investimentos a partir de 2020 e portanto se tornar uma grande operadora no futuro”, argumentou.
O governo, porém, já manifestou a intenção de retomar os leilões do pré-sal em 2017. “Não há necessidade dessa aceleração dos leilões do pré-sal, o pré-sal já concedido permite ampliar a produção nos próximos anos muito rapidamente sem necessidade de colocar empresas internacionais em substituição à Petrobras na exploração dessas áreas”, rebateu Gabrielli.
O ex-presidente da estatal também criticou a decisão da nova diretoria da Petrobras de vender a fatia de 66% que detinha na área de Carcará, uma das grandes descobertas no pré-sal. A participação da estatal foi vendida para a Statoil por US$ 2,5 bilhões. “A estimativa (de produção), de 700 milhões de barris a 1,3 bilhão de barris, dá o direito de produzir esse barril entre US$ 1,90 e US$ 3, o que é um preço baixo dada a confiança nos dados existentes”, disse.
Segundo Gabrielli, a Petrobras tem outras alternativas de buscar recursos no curto prazo, como o mercado de títulos. “É claro que as taxas de juros são um pouco mais altas, mas acho que a lógica de você alongar os vencimentos do ponto de vista financeiro já está sendo adotada pela Petrobras e acho que ela deveria insistir um pouco mais nisso, mais do que vender ativos estratégicos.”
Outros ex-membros da diretoria da estatal, como Ildo Sauer e Guilherme Estrella, também estão no plenário, assim como representantes da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e da Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet).