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Governo do Rio veta acesso de 4 grandes indústrias às águas do Rio Guandu

Um dia após a Agência Nacional de Águas (ANA) ter sinalizado a necessidade de redução drástica da vazão para preservar os estoques ameaçados pela seca na bacia do Rio Paraíba do Sul, o governo do Rio de Janeiro decidiu vetar o acesso das grandes indústrias ao Rio Guandu, que abastece cerca de 9 milhões de pessoas na região metropolitana.

Em reunião com representantes de quatro empresas, o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, anunciou nesta quinta-feira, 29, que elas serão obrigadas a comprar água de reúso, deixando de captar no Guandu.

Para que isso ocorra, porém, serão necessárias desapropriações e a construção de uma adutora em um trecho de 14 quilômetros, como mostrou o jornal O Estado de S. Paulo na sexta-feira passada. A obra, que ainda não tem custo definido, dificilmente ficaria pronta antes de seis meses, segundo técnicos.

“Nossa prioridade é garantir o abastecimento humano. Poderemos, sim, em um ato extremo, cassar outorgas para captação de água, mas acredito que isso não será necessário”, afirmou Corrêa.

Representantes das empresas não deram entrevista após a reunião. As quatro indústrias – Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), Gerdau, Furnas e Fábrica Carioca de Catalisadores (FCC) – ficam na ponta do sistema de abastecimento, em Santa Cruz, zona oeste da capital. Juntas, comprometem cerca de 15% da vazão do Guandu.

As empresas captam apenas uma parcela (cerca de mil litros por segundo) dessa quantidade, mas a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) precisa levar para o canal de São Francisco um volume bem maior, com o objetivo de “empurrar” a água salgada da baía de Sepetiba que entra no canal.

Em reunião ocorrida quarta-feira com a presidente Dilma Rousseff e o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), em Brasília, técnicos da ANA sugeriram reduzir a vazão na elevatória de Santa Cecília, onde ocorre a transposição do Paraíba do Sul para o Guandu, dos atuais 140 mil litros por segundo para 110 mil, revelou Corrêa. Ele já espera uma redução, mas afirma que a vazão de 110 seria “extremamente limitante, tornando praticamente inviável a gestão”.

“Se for reduzida assim, não temos como garantir o fornecimento para as empresas”, disse. O governo do Rio continua negando a necessidade de racionamento.

Técnicos ouvidos pela reportagem avaliam que se não chover o suficiente para encher os reservatórios e for mantida a atual vazão, os 2,95 trilhões de litros acumulados nas reservas técnicas das represas que abastecem o Rio só duram até outubro. Dos quatro reservatórios, dois já atingiram o volume morto e os outros dois apresentam níveis próximos de zero (1,72% e 3,92%).

A decisão sobre a vazão deverá tomada na próxima quinta-feira em reunião com representantes da ANA, do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), do Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica e dos órgãos gestores de Rio, São Paulo e Minas Gerais.

Além da ação contra as empresas de Santa Cruz, Corrêa se comprometeu a enviar em 15 dias para a Assembleia Legislativa um projeto de lei que cria uma “política permanente de reúso de água no Estado”.

Segundo ele, também está prevista reunião com representantes da Refinaria de Duque de Caxias (Reduc), da Petrobras, que consome cerca de 2 mil litros por segundo – a empresa terá que aproveitar a água que resulta do processo de tratamento de esgoto na Estação de Alegria, no Caju, zona norte.

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