Economia

GranBio inicia produção de etanol 2G

A GranBio, empresa de biotecnologia fundada pela família Gradin, deu início à produção de etanol de segunda geração (2G) no Brasil, desenvolvido à base de palha e bagaço da cana. Trata-se da primeira unidade produtora em escala comercial do hemisfério Sul. A fábrica poderá mudar no País uma tradição de mais de 500 anos no jeito de se produzir álcool, até então feito do caldo da cana. O principal desafio dos Gradin, neste momento, é tornar o seu negócio rentável, uma vez que as tradicionais usinas do setor enfrentam uma das piores crises de sua história.

A unidade Bioflex 1, instalada na cidade São Miguel dos Campos, em Alagoas, recebeu investimentos de US$ 190 milhões na parte industrial, US$ 34 milhões acima do previsto inicialmente, e outros US$ 75 milhões em cogeração de vapor e energia, em parceria com a usina Caeté, do grupo Carlos Lyra, totalizando US$ 265 milhões. O BNDES financiou R$ 300 milhões desse projeto.

A Bioflex 1 terá capacidade para produzir, por ano, 82 milhões de litros de etanol anidro (que é misturado à gasolina) e deverá operar a plena carga a partir de 2015. Cerca de 50% da produção será exportada e a outra metade, comercializada na região Nordeste do País, dependendo das condições do mercado. A expectativa inicial é de que a primeira planta de etanol de 2G da GranBio atinja faturamento de R$ 150 milhões em 2015.

Idealizada em 2012, a GranBio tem como sócios a família Gradin, com 85%, e o braço de participações do BNDES (BNDESPar), com 15%. O banco aportou R$ 600 milhões na empresa, controlada pela GranInvestimentos.

O plano da GranBio é erguer outras 10 plantas de etanol 2G, com parceiros, até 2022, em um investimento que deve somar R$ 4 bilhões, disse Bernardo Gradin, presidente da GranBio. A meta é atingir a produção de 1 bilhão de litros de etanol 2G nesse período. Segundo Gradin, a segunda planta do grupo deve entrar em operação a partir de 2016. “Os investimentos nas futuras fábricas deverão ser mais baratos que os da primeira.”

Tecnologia

Para viabilizar o projeto de 2G, a GranBio firmou parcerias com empresas estrangeiras: a italiana BetaRenewables (do grupo M&G, produtor de resinas PET), que detém a tecnologia de pré-tratamento da matéria-prima; a dinamarquesa Novozymes, fornecedora de enzimas que atuam como catalisadores na quebra das fibras de celulose em açúcares; e a holandesa DSM, que entra no processo de fermentação, com a transformação desses açúcares por meio de ação de leveduras.

“A expectativa é de que nos próximos meses o custo de produção de etanol de segunda geração seja 20% mais baixo que o da primeira geração”, disse. O custo de produção de etanol de primeira geração gira em torno de R$ 1,50 por litro, de acordo com a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Unica).

A subsidiária da M&G tem uma planta de demonstração (menor escala) de etanol de segunda geração. Neste ano, três grupos, a DuPont, Poet e Quad County, começaram a produzir o combustível em escala comercial, nos EUA. No Brasil, a Raízen, joint venture entre Cosan e Shell, e a usina São Manoel também apostam nessa tecnologia.

Enquanto o ciclo de produção de uma usina sucroalcooleira tradicional dura o tempo da moagem da cana – no Centro-Sul do Brasil vai de março a dezembro -, uma fábrica de segunda geração funciona independentemente da safra de cana, 12 meses por ano, conforme a disponibilidade da matéria-prima (palha e bagaço), que ainda são tratadas como “sobras” por boa parte das usinas do setor.

O Brasil tem potencial de aumentar em 50% a produção de etanol apenas com uso de palha e bagaço, sem necessidade de ampliação de canaviais, de acordo com Gradin. A GranBio desenvolveu um sistema próprio de armazenamento da matéria-prima que a coloca entre as mais competitivas do mundo.

Os planos da GranBio são investir também em bioquímico renovável. No ano passado, fechou parceria com a Rhodia (da Solvay) para a produção de bio n-butanol, que é usado em larga escala pelas indústrias químicas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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