Em meio à crise de representatividade dos partidos políticos, um grupo apresenta nesta sexta-feira, 27, em São Paulo, o que classifica como misto de legenda e movimento social. Batizado de Raiz Movimento Cidadanista, o grupo inspira-se na nova esquerda europeia do espanhol Podemos e do grego Syriza na tentativa de ser uma alternativa aos 71% dos brasileiros que, segundo o Datafolha, não têm preferência por nenhum partido.
O evento, que terá a participação da deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), apresentará uma carta com os princípios do grupo, entre eles o respeito ao bem viver e ao bem comum e a defesa do ecossocialismo. Para Erundina, o movimento representa a perspectiva de criar uma nova cultura política para um sistema exaurido. “O sistema político está exaurido como um todo, não é uma crise de governo ou de um partido”, diz à reportagem, ressaltando que o problema é mundial.
“O sistema atual está gerando muita frustração e rejeição à política”, disse. “No Raiz temos igual oportunidade de decidir, eu com a minha idade e um jovenzinho que está começando agora”. Segundo a deputada, o Raiz – que foi provisoriamente chamado de Avante – vem sendo discutido há vários meses e já conta com núcleos em 18 Estados.
Erundina destaca que a legislação dá liberdade para a organização interna dos partidos e que o Raiz será horizontal, baseado em redes, uma formação que atenua a marca personalista que ela vê na maioria dos partidos do Brasil. Ela também afirma que o envolvimento na criação do Raiz não traz conflitos com sua atuação como deputada pelo PSB. “Minha origem política e de militância foi sempre com vínculo muito direto com a sociedade civil organizada em movimentos”, afirmou, ressaltando que não está colocada de pronto uma saída do PSB. “Tenho conversado com alguns companheiros que têm mostrado interesse em participar do debate também”.
O historiador Célio Turino, um dos articuladores do grupo, diz que o Raiz deve ir a fundo na discussão dos problemas antes de partir para a coleta de assinaturas e o pedido de registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). “A Rede ficou anos buscando as assinaturas e discutiu pouco as propostas, o que ficou claro durante a campanha de Marina”, diz o historiador, fazendo referência às contradições programáticas durante a campanha presidencial da ex-ministra.
Assim como Turino, outros integrantes do grupo estiveram envolvidos na formação da Rede Sustentabilidade de Marina Silva – mas discordaram da decisão da ex-ministra de apoiar Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições.
Turino diz que o próximo passo do grupo, após o lançamento da carta, é construir “círculos cidadanistas” por temas ou regiões. “Quando percebermos que a raiz brotou, a coleta de assinaturas será um problema de menos.”
O movimento também busca identificação com quem foi às ruas em junho de 2013. “Debatemos muito o significado dos movimentos de 2013. Eles não tinham causas muito claras, mas expressavam um desejo de expressão da cidadania, que é ser respeitado, ter assegurado os direitos com dignidade”, afirma, ressaltando que o Raiz nasce menos de um senso de oportunidade e mais de um senso de necessidade. “Não nos apresentamos como partido desesperado para concorrer à eleição, mas como um movimento nessa busca por inverter o resultado do jogo político”.