“Mulher, mãe, fotógrafa, servidora pública, poetisa e filha amada do Deus vivo!”. Desta forma, Audrey Pacaterra se definia em seu perfil no Facebook. Aliás, nesta rede social, ela se mostrava ao mundo. Colecionava milhares de amigos (reais e virtuais), combatia, defendia seus princípios, opinava, gritava, se expunha. Mesmo quem não a conhecia fisicamente, compartilhava seus pensamentos a cada instante.
No face, anunciou que estava com Covid-19 em 26 de novembro, ao postar a refeição preparada por seu filho Matheus para cuidar dela. Revelou que um dia antes ambos testaram positivo para a doença. Dias antes, lamentou a morte do ídolo Maradona. Ainda fez postagens (dezenas delas) até o fim do segundo turno das eleições, quando comemorou a reeleição do prefeito Guti. Aliás, sua última postagem foi neste sentido, às 20h43 do dia 29. De lá para cá, silêncio total, algo impossível para quem a acompanhava.
Audrey postava tudo, o que comia, onde ia, com quem andava, o que pensava. Não tinha pudor em se expor ao mundo. Anti-petista, aproximou-se de Guti enquanto ele ainda era vereador e foi uma das primeiras entusiastas da rede social a defender o ainda jovem vereador com unhas e dentes. Participava de tudo, de cada ato de campanha, de cada manifestação. Chegou a se candidatar a vereadora em 2016 pelo mesmo PSB do prefeito eleito, como forma de ampliar seu apoio.
Tinha manifestação na Paulista contra Dilma Rousseff? Audrey estava lá. Fotografando tudo e a todos. E postando tudo à sua volta. Tinha shows na cidade. Lá estava ela com direito a foto ao lado dos artistas. Em seu álbum de fotos no face, milhares de registros com gente que ela conviveu esse tempo todo. Em 2016, em 11 de março, foi convidada para acompanhar a estreia do espetáculo “O Musical Mamonas”, no Teatro Raul Cortez, em São Paulo. Na ocasião, registou aqui no GuarulhosWeb esta experiência. E o convite tinha razão de ser. Moradora do Cecap, estava ao lado do grupo Mamonas Assassinas quando ele surgiu. Participou da formação do grupo e era muito próxima dos meninos guarulhenses, que vieram a morrer em acidente aéreo em 1996.
Palmeirense convicta, sempre acompanhava de perto seu time de coração no estádio, sempre postando fotos e provocando os adversários. Torcia tanto pelo Palmeiras como contra o Corinthians. Não perdia a oportunidade de comemorar cada gol ou revés que o oponente sofria, com sutis provocações aos amigos corinthianos.
Em relação ao Covid-19, sempre defendia que todos se cuidassem. Portadora de algumas comorbidades, protegia-se ao máximo e propagava esta necessidade. Lamentava cada amigo perdido para a doença. Não acreditava que ela própria poderia ser vencida. Nos últimos meses, diante do isolamento, postava muita coisa de dentro de sua casa. Revelava cada prato que comia, seu amor aos gatos e a paixão pelo filho.
Na manhã deste domingo, depois de permanecer internada em estado grave por mais de três semanas, Audrey, agente de administração da Prefeitura de Guarulhos, onde ingressou em 1992, não resistiu ao coronavírus, que a venceu. O silêncio em sua página no Facebook, que começou no último 29 de novembro, prevalecerá. Mas pelo que demonstram as postagens de seus amigos, neste domingo, 20 de dezembro, sua imagem permanecerá. As manifestações de pesar com histórias e fotos de gente que a considerava por sua essência não param de ser postadas.