O ministro Paulo Guedes assumiu de vez o tom de campanha em encontro com empresários na Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ). A todo instante o ministro interrompia suas análises para elogiar o governo e criticar, sem menções diretas, a candidatura do ex-presidente Lula (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto.
"Conservadores e liberais estão juntos porque do outro lado tem o capeta, o caminho da miséria", chegou a dizer Guedes a certa altura do discurso.
"Qualquer brasileiro sabe qual é o nosso plano. Ninguém sabe qual é o (plano) do outro lado", disse, arrancando aplausos da plateia de empresários. Mas, ao contrário das visitas anteriores de Guedes a ACRJ, ao longo de do governo, o auditório do prédio próximo à Igreja da Candelária, no Centro, não estava completo. Havia dezenas de cadeiras vazias.
O ministro prometeu à plateia continuar com o processo de abertura da economia e se comprometeu a manter o Auxílio Brasil no valor de R$ 600 ao longo de um eventual próximo governo. "Vamos (manter o valor), tem dinheiro", afirmou. Ele reivindicou a autoria do programa. "A definição do valor do Auxílio Emergencial é cheia de pais, mas sabemos quem foi a mãe. Fomos nós que desenvolvemos", disse.
Segundo o ministro, o governo Bolsonaro fez "muita coisa", que só foi possível porque o presidente teve "mão amiga e forte", referência ao lema do Exército.
Guedes ainda aproveitou a ocasião para fazer elogios públicos ao ex-ministro da Infraestrutura e atual candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). E disse que o Banco Central americano, o Federal Reserve, está vindo para o Brasil "aprender a fazer o Pix". Nesse ponto, Guedes repete a apropriação da tecnologia pelo grupo político de Bolsonaro. O Pix já vinha sendo desenvolvido por técnicos do Banco Central antes de 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro.
<b>Reeleição</b>
Notabilizado por discursar contra a possibilidade de reeleição, Guedes disse que mantém a posição, mas relativizou desta vez.
"Continuo achando reeleição ruim, mas com dois (governos) FHC, dois Lula e dois Dilma, talvez precisemos de 2 Bolsonaro. Vamos dar um creditozinho para ele (Bolsonaro)", disse.
<b>Inflação e gastos</b>
Guedes abordou por mais de uma vez a questão da inflação que, segundo ele, teve previsões equivocadas de analistas, seja por erro técnico ou militância. Segundo Guedes, o índice antes previsto de 7,4% já caminha para algo próximo de 6% no ano.
"Vocês já tinham visto inflação no Brasil abaixo dos EUA? Abram o jornal e riam dos analistas", disse Guedes aos empresários.
Sobre os gastos do governo, Guedes disse que o governo Bolsonaro será o primeiro a encerrar o mandato gastando menos. "Se ficarmos será menos ainda, 17% ou 16% do PIB. Estamos deixando o País arrumadinho, mas dá pra afundar bastante (em caso de derrota de Bolsonaro)", afirmou.
Mesmo assim, ele reiterou que o governo federal tem pouco poder sobre as definições do orçamento e se disse a favor de repasses maiores a entes federativos. "Nunca Estados e municípios receberam tanto; quem reclama é débil mental ou militante. A oposição nunca viu tanto dinheiro; somos republicanos, a favor da distribuição de recursos", disse Guedes.