Contada em duas partes – que até poderia se considerar uma trilogia sobre Che se incluíssemos Diário da Motocicleta, de nosso Walter Salles – esta segunda e última relata os dias finais de Che antes de ser emboscado e assassinado em 9 de outubro de 1967
A história de Che emociona e inspira por carisma, força e coragem deste que é o símbolo da revolução, no sentido mais amplo. Che se formou médico jovem, mas após uma cruzada pela América do Sul em duas rodas observando tanta miséria e abandono de um povo, trocou a cura de doenças humanas por uma busca desenfreada e sem limites pela cura do mundo.
Che – de nacionalidade argentina – conheceu Fidel e ao lado deste derrubou a ditadura em Cuba em meio a confrontos narrados no primeiro filme de Soderbergh. Com Fidel no poder, Che recebeu a patente de segundo homem mais poderoso de Cuba e trocou todo o luxo do poder por mais uma batalha em nome da revolução novamente por um país – a Bolívia – que não o seu de origem.
Jean Paul Sartre, um dos maiores filósofos contemporâneos, considerou Che como o homem mais maduro do nosso século. A imagem de herói de Guevara foi criada na década de 60 e muitos atribuem isso ao fato da ausência de ícones na época, porém pergunto como que Che ainda é herói até hoje? Os anos 70, 80, 90 e a década atual também não produziram os seus?
O fato lamentável e real, meus caros sete revolucionários leitores favoritos, é que herói da estirpe de Guevara ainda não nasceu e talvez não nasça tão cedo. O próprio Che sempre foi avesso ao título de herói, pois lutava por um mundo sem heróis ou um mundo onde todos nós fossemos heróis. Morto por sua própria utopia, Che perdeu a vida para a força e o poder do capitalismo, mas nunca perdeu sua honra e acima de tudo sua verdade que ainda brilha nos corações de quem luta por uma bela causa.
Talvez um dia ele volte a inspirar homens de caráter ímpar como o dele para lutar contra a desigualdade cruel que existe. Muitos políticos e aspirantes erguem a bandeira de Che para conseguir votos e nada mais. Afinal, tem até uma cidade que fica ali, bem ao sul do equador – próxima a grande metrópole São Paulo, onde vereadores idolatram a coragem de Che, mas não seguem seus princípios na prática.
Afinal, ele poderia ser rico e morreu pobre. Nunca sequer cogitou a idéia de comprar uma simples bolsa no valor de dois mil e quinhentos dólares, que convenhamos alimentaria muitas famílias e traria pelo menos uma dose de felicidade e sorriso nos lábios de inocentes que valeriam muito mais do que um desfile fútil em nome de uma moda mais fútil ainda.
O verdadeiro socialista treme de indignação frente a uma injustiça social. Também há políticos que juram brigar pelo povo, mas quando chegam ao seu posto ignoram que ele exista. Lutam apenas em causa própria, inclusive querendo mudar o horário das já reduzidas sessões na câmara para que essas não atrapalhe suas outras fontes de renda.
Che nunca recebeu para lutar pelo próximo, coisa que deveria ser analisada pelos eleitores. Afinal, quem ama tanto a cidade e seu povo poderia ser voluntário para uma cidade – e um mundo – melhor e não apenas funcionário, muitas vezes com atuação abaixo da mediocridade.
O jeito, meus caros, é seguir em frente com a boiada. Claro, enquanto não te soltarem numa arena ao som de música brega e tortura física para alegria dos fariseus. Aliás, a alegria deles foi ver um homem que deu sua vida para salvar os pobres ser assassinado. E qual foi o final de Che? Seria Guevara mais um salvador, assim como Zapata e Gandhi, entre outros que proclamamos a volta e que tiveram o mesmo final que os antepassados deram ao maior salvador de todos?
O verdadeiro revolucionário é movido por sentimentos de amor, mas a revolução se faz dia a dia através de um homem e de seu povo!
Maurício Nunes é autor do livro Sob a Luz do Cinestar e também mantém o blog www.programacinelandia.blogspot.com