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Glorioso Tarantino Bastardo

Era uma vez um garoto nerd, que de tanto assistir a filmes de todos os gêneros, revelou-se um cinéfilo incontestavelmente erudito no assunto e absorvido por toda esta cultura oriunda da sétima arte se transformou em um ícone absoluto do cinema contemporâneo! Quentin Tarantino já havia cravado seu nome na lista dos diretores consagrados do cinema de autor, após o sucesso de Cães de Aluguel e seu cult movie Pulp Fiction e hoje, sem dúvidas, já é referência absoluta no assunto. Pode ser discutido e analisado lado a lado com seus heróis de infância e adolescência, pois inegavelmente entrou no rol dos Grandes Diretores. Mas para aqueles que discordam e achavam que depois de alguns desastres o moço havia se perdido, aqui está a resposta: Bastardos Inglórios.


 


Arrisco dizer sem medo que é o melhor trabalho de Tarantino. O moço cresceu e está cada vez mais infalível na arte de contar uma história como quase ninguém faz nos dias de hoje. Claro que a crítica cheirando a mofo vomitou seu ódio ao rapaz, considerando a obra de Tarantino uma brincadeira, porém se dez por cento apenas dos diretores que esta mesma “crítica” tanto ovaciona fizessem metade da brincadeira de Quentin, o cinema agradeceria e a platéia mais ainda. O filme gira em torno da segunda guerra, mas diferente dos 400 mil filmes que já vimos a respeito, nesta produção absolutamente criativa o diretor arrisca, ironiza, polemiza e mistura – sua assinatura – como ninguém a cultura Pop com personagens e fatos históricos, como o temido Führer, sugerindo até um final mais poético – claro que nos moldes Tarantinescos – para o fim do nazismo.


 


A qualidade técnica do filme é avassaladora e nos leva a uma verdadeira viagem por grandes movimentos e linguagens cinematográficas que vão desde o velho oeste de Sergio Leone até o nouvelle vague de Truffaut, passando por Cinderella, Chaplin, Marlon Brando e outras dezenas de referências que um cinéfilo divagaria sem parar. Um dos trunfos de Quentin – além desta geléia geral – é a direção de atores, sempre notória e sua fama de xamã dos astros apagados – ressucitando-os ao mundo dos holofotes como fez com Travolta, David Caradine e Kurt Russel -, mas neste caso faz o inverso, utilizando o mega star Brad Pitt, que apesar de ser o carro chefe da produção participa no máximo 25 minutos em um filme de quase três horas dando vida a um personagem brilhantemente caricato e arrasador.


 


Mas a verdadeira estrela do filme – além de Tarantino, claro – é o ator austríaco Christoph Waltz que interpreta magnificamente o oficial Land, fio condutor de toda a trama e que assim como os vilões selecionados a dedo para a série Batman, rouba a cena em todos seus momentos. Christoph Waltz: guardem bem este nome! Voltando a trama – escrita por Tarantino e concluída após oito anos – a história gira em torno de um grupo de mercenários assassinos de nazistas liderados por Aldo (Pitt) que tem como missão por fim à guerra eliminando Hitler e seus oficiais, o que aliás ele e seu grupo faz com tanto prazer e ódio, que se tornam o pesadelo de qualquer nazista. Em uma trama paralela uma das vitimas do holocausto – Sachana – consegue escapar com vida – após ver sua família ser fuzilada por Land – e se torna dona de um cinema em Paris, que ironicamente foi escolhido para promover um filme nazista. Aproveitando esta estranha oportunidade, a jovem traça um engenhoso plano de vingança e sua história funde-se com a dos Bastardos Inglórios num momento mais que oportuno! Meus caros sete leitores, fica aí uma bela dica para quem ama cinema.


 


Simbolicamente, Tarantino – e sua sempre extravagante trilha sonora – sugere em sua obra que o assunto queime de vez nas salas de cinema, afinal Hitler e suas aberrações já nos saturaram com sua crueldade. Vida nova para o mundo e vida nova para o cinema, que nas mãos de Tarantino sempre ganha fôlego e carisma de menino travesso. Encerro a coluna com a última frase do roteiro – dita pelo personagem de Pitt – onde o próprio roteirista/diretor proclama: “Acho que esta deve ser minha obra prima”. Concordo contigo, Tarantino. Está é a sua obra prima!


 


Maurício Nunes é autor do livro Sob a Luz do Cinestar e também mantém o blog  www.programacinelandia.blogspot.com

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