Estadão

Haddad diz que é mais fundamentalista que maioria dos analistas e que olha expectativas

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira, 4, que se considera mais "fundamentalista" que a maioria dos analistas do mercado, mas que olha também para as expectativas. Ele fez esta afirmação ao ser questionado pelo <i>Broadcast</i> (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) durante entrevista coletiva que concedeu em São Paulo, de onde despacha nesta sexta-feira, como viu a avaliações de alguns analistas de que o Banco Central ancoraria melhor as expectativas de inflação se tivesse cortado apenas 0,25 ponto porcentual da Selic.

"Eu sou mais fundamentalista que a maioria das pessoas. Eu olho as expectativas, mas também olho os fundamentos", disse o ministro.

No mercado financeiro, algumas pessoas entendem que um corte de 0,25 ponto porcentual daria mais consistência à mensagem que o comunicado trouxe, de que a política monetária continua contracionista. Mais ainda, que a sinalização de que os próximos cortes da Selic poderão repetir a magnitude de quarta-feira pode desancorar as expectativas.

"Eu olho para as expectativas, mas eu olho para os fundamentos da economia, para o que está acontecendo na economia real concretamente. Como está a atividade econômica, como que está o crédito, como que está a arrecadação? As expectativas são importantes e são parte do trabalho da equipe econômica avaliar a consistência delas. Se não fossem consistentes você não teria cinco votos <i>pelo corte de 0,5 ponto porcentual</i> no Copom. Estamos desde janeiro dizendo que o Copom é técnico. Agora que ele cortou 0,50 p.p. deixou de ser?", questionou o ministro.

<b>Copom x Fiscal</b>

Haddad também discorda que o Copom relativizou no comunicado a questão fiscal e reforçou que o colegiado sempre deixou claro que está acompanhando a questão fiscal. "Não vai deixar de acompanha porque é o trabalho do Copom", disse.

De acordo com ele, o tom no comunicado do Copom mudou porque o arcabouço fiscal já passou na Câmara e no Senado. Que isso significa que a parte mais difícil, que era substituir o teto de gastos que ruiu – o teto não foi substituído, mas ruiu antes de ser substituído -, está sendo colocado numa fase de lei complementar que tem amplo apoio de todas as forças do Congresso Nacional.

"Com base nisso, o assunto marco fiscal perdeu um pouco da visibilidade que ele tinha, mas eu sou o primeiro a dizer que nosso desafio fiscal está dado. Nós temos de aprovar o Orçamento com as medidas complementares que vão garantir o resultado primário almejado. Eu nunca tirei da frente este objetivo e nunca deixei de manifestar a respeito disso", afirmou Haddad, complementando que sempre elogiou os avanços, mas que o campeonato não está ganho.

Ainda de acordo com o ministro, o governo vai encaminhar um Orçamento equilibrado com perspectiva de zerar o déficit primário, que recomponha as perdas da população com a pandemia. "Há melhora nos preços, mas ainda pequena", disse.

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