Estadão

Holofotes da Olimpíada e redes sociais ajudam atletas a obter patrocínio

Não é de hoje que os Jogos Olímpicos ajudam atletas a buscar patrocinadores. Mas em Tóquio a situação foi um pouco diferente. Esportistas como Rayssa Leal, do skate, e Douglas Souza, do vôlei, conquistaram apoiadores antes mesmo de competir, graças ao sucesso nas redes sociais. Os bons resultados nas pistas ou nas quadras da Olimpíada só aumentaram os holofotes, incrementando o número de seguidores e de patrocínios.

Medalhista de prata, Rayssa é uma das atletas que mais chamou a atenção de empresas e potenciais patrocinadores por sua performance em Tóquio. Aos 13 anos, ela começou os Jogos com oito apoiadores. No momento, negocia com 20. "Hoje muitas marcas que não enxergavam o potencial dela no passado puderam assistir ao talento dessa atleta e os valores de união, respeito e autenticidade que só o skate é capaz de transmitir. Temos mais de 20 marcas de diversos segmentos querendo se associar à imagem da Rayssa", afirmou Tatiana Braga, empresária da jovem skatista, ao <b>Estadão</b>.

Rayssa deve despontar na televisão em peças publicitárias em setembro. Uma de suas primeiras campanhas será para a Brasilprev, especializada em previdência privada que conta com o Banco do Brasil como um dos seus principais acionistas. "A Rayssa é a garota-propaganda do nosso produto destinado a crianças", explicou Laura Beltran, gerente de marketing da empresa.

A skatista foi contratada ainda em 2020, justamente pela proximidade da Olimpíada, que acabou sendo adiada para este ano. O contrato vai até o final de 2022. "Escolhemos a Rayssa pelos resultados, porque ela realmente encanta e porque queremos nos aproximar do público mais jovem do skate e do surfe", disse Beltran. Será a primeira vez que a empresa terá uma adolescente e uma skatista como garota-propaganda. A gerente de marketing avisa que outros atletas olímpicos estão no radar da empresa.

O sucesso de Rayssa em Tóquio já traz benefícios evidentes para patrocinadores mais antigos da atleta. A Nike registrou aumento de 700% na busca por itens de skate em seu site entre 24 e 27 de julho, quando a modalidade street do skate, de Rayssa, foi disputada na Olimpíada.

"A conquista da medalha impulsiona ainda essa vontade de adquirir os produtos e acessórios usados pelos heróis brasileiros em Tóquio. Na segunda-feira, lançamos alguns produtos que foram usados pelos atletas na competição e tivemos itens esgotados na mesma semana", contou Gustavo Viana, diretor de marketing da distribuidora da Nike no Brasil.

Parte deste sucesso de Rayssa se deve ao seu crescimento nas redes sociais. Ela ganhou pouco mais de 4 milhões de seguidores em 24 horas. Passou de 600 mil fãs para os atuais 6,6 milhões, um aumento de quase 1 milhão por cento. Sucesso semelhante vive Douglas. O jogador da seleção brasileira de vôlei começou o mês de julho com pouco mais de 200 mil seguidores. Hoje tem 3,2 milhões.

Sua personalidade genuína e brincalhona não passou despercebida pelas empresas. Mesmo não sendo titular da seleção, ele entrou para o time da XP, que se tornou a principal patrocinadora do Comitê Olímpico do Brasil (COB) para o ciclo olímpico que se encerra nos Jogos de Paris-2024.

"A gente se identificou muito com o Douglas, principalmente com a questão do alto rendimento nas quadras e o grande espírito de equipe que ele transparece. O sucesso dele nas redes sociais também foi um fator que contou na nossa decisão, mas não o único. É mais sobre uma conexão de princípios e valores", explicou Pethra Ferraz, diretora de Marketing da XP Inc.

A empresa também acertou com outros atletas que vieram a se destacar em Tóquio, como o nadador Bruno Fratus, medalhista de bronze, Lucarelli, parceiro de Douglas na seleção de vôlei, e a judoca Mayra Aguiar, que faturou seu terceiro bronze em Olimpíadas no Japão. Eles foram contratados pouco antes do início dos Jogos.

Para especialistas em marketing esportivo, a conquista de novos patrocinadores não se deve apenas ao resultado obtido na Olimpíada. A boa presença dos atletas nas redes sociais potencializam as atenções durante um grande evento como os Jogos. "O Douglas já era atleta da seleção faz tempo, já era campeão olímpico (no Rio-2016), mas precisou do holofote da seleção e das redes sociais. Ele começou a fazer um excelente trabalho nas redes para contar a sua história, mostrar sua personalidade e seu carisma. E começou a atrair a atenção das marcas", destacou Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM.

O bom trabalho na rede social também explica o sucesso de Rayssa na busca por apoiadores. "Quantas narrativas e histórias são construídas ao redor dela, pelo fato de ter apenas 13 anos, por sua busca por sonhos. Claro que essas histórias já existiam, mas a medalha fez com que elas viessem à tona. E ganharam ainda mais espaço com as redes sociais."

Posso ajudar?