Alarmada pelo relatório divulgado pela Agência Mundial Antidoping, nesta segunda-feira, a Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em inglês) admite excluir a Federação de Atletismo da Rússia das próximas competições internacionais, incluindo os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
Sebastian Coe, presidente da IAAF, declarou nesta segunda que “tomou a decisão urgente” de buscar aprovação no conselho da entidade para considerar punições contra a federação russa. De acordo com o dirigente, “estas punições podem incluir suspensão provisória e total e exclusão dos futuros eventos da IAAF”.
Coe disse ainda que considerou “alarmante” o relatório divulgado pela Wada nesta segunda e avisou que “fará tudo que puder para proteger os atletas limpos e reconstruir a confiança no nosso esporte atletismo”.
No relatório de 323 páginas, a Wada acusa o governo russo de promover uma indústria para manipular resultados no atletismo, subornando dirigentes, comprando resultados, criando laboratórios secretos e mesmo destruindo mais de 1,4 mil amostras de sangue de atletas antes que fossem examinados. Segundo o documento, o uso de substâncias proibidas é “consistente e sistemático” e “a aceitação do doping em todos os níveis é generalizada” no atletismo russo.
As descobertas contidas no relatório ainda serão destrinchados pela Wada. Mas dados apontam que os russos teriam pago milhões de dólares para evitar que seus atletas fossem banidos por doping e que teriam construído até mesmo um laboratório paralelo para onde as amostras seriam enviadas. Apenas aquelas que estivessem limpas seriam repassadas para os laboratórios oficiais e com controle internacional.
A comissão formada pela Wada para investigar os seguidos casos de doping no atletismo russo solicitou o descredenciamento do laboratório de Moscou e pediu a demissão do diretor do órgão, Grigory Rodchenkov. Segundo o relatório, o laboratório sofria intervenções constantes, até mesmo do serviço secreto russo.
As afirmações da Wada levantam uma nuvem de suspeita sobre os resultados dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, na Rússia. O laboratório de Moscou era o responsável por supervisionar as amostras testadas ao longo da competição realizada no início de 2014. O órgão será a referência para os testes antidoping que serão executados durante a Copa do Mundo de 2018.
Líder da comissão da Wada, Dick Pound afirmou em entrevista coletiva que as infrações encontradas ao longo da investigação são “piores que o esperado”. Ele comparou o caso ao escândalo de corrupção na Fifa, marcada por prisões de dirigentes e pela suspensão do presidente Joseph Blatter.
A Federação de Atletismo da Rússia ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso. Mas, em entrevista à agência Associated Press, o presidente da entidade, Vadim Zelichenok, negou que o doping seja “sistemático”, como afirma o relatório da Wada. E disse que a acusação não é “objetiva” porque a gestão da federação foi alterada após os casos de doping revelados no início do ano.
ATLETAS – A comissão da Wada recomendou o banimento total de 10 russos envolvidos em caso de doping, incluindo atletas, treinadores e gestores. Os cinco atletas são corredores de meia distância. Uma delas é Mariya Savinova-Farnosova, campeã olímpica dos 800 metros em Londres-2012. Outra é Ekaterina Poistogova, medalhista de bronze na mesma prova. A Wada alerta que resultados da última Olimpíada foram sabotados por causa do doping “sistemático” dos atletas russos.
Os 10 casos denunciados pelo relatório e todos os detalhes da investigação serão analisados com maior profundidade na reunião do Comitê Executivo da Wada, na próxima semana, em Colorado Springs, nos Estados Unidos. Será o órgão o responsável por avaliar o pedido da comissão de excluir a Federação de Atletismo da Rússia das próximas competições e o possível descredenciamento do laboratório de Moscou.