O Ibovespa atingiu novo pico histórico nesta quinta-feira, 4, com investidores celebrando o avanço da reforma da Previdência no Congresso. Em sintonia com o tom positivo dos demais ativos domésticos, o Ibovespa começou sua escalada ainda pela manhã e se firmou na casa dos 103 mil pontos com o início dos trabalhos da comissão especial da Câmara. Pela tarde, minutos antes da aprovação do relatório do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), o índice tocou momentaneamente os 104 mil pontos, para depois experimentar um arrefecimento moderado e fechar em alta de 1,56%, no nível recorde de 103.636,17 mil pontos.
Depois de avançar 4,06% no mês passado, o principal índice da B3 já acumula valorização de 2,64% nos quatro primeiros pregões de julho. Das 66 ações que compõem o índice, apenas três encerraram o pregão em queda. A liquidez foi boa (R$ 13,51 bilhões), com volume negociado próximo da média, apesar de as bolsas americanas estarem fechadas por conta do feriado do Dia da Independência nos Estados Unidos. Isso sugere que a alta do mercado acionário doméstico é consistente e, mesmo em caso de vendas para realização de lucros no último dia, o índice deve se manter acima dos 100 mil pontos.
Há certo otimismo com a possibilidade de que seja possível aprovar a reforma da Previdência no plenário da Câmara, mesmo que apenas em 1º turno, antes do recesso parlamentar, em 18 de julho. Sinais de que esse prazo pode não ser cumprido e ameaça de diluição da proposta podem provocar solavancos mais fortes no mercado, dizem operadores.
Para Felipe Oliveira, analista de investimentos da Coinvalores, a tendência para o Ibovespa em julho permanece positiva. Apesar de o índice, nos níveis atuais, já refletir em parte a crença no avanço da reforma na Câmara antes do recesso, há espaço para uma nova rodada de valorização se houver nos próximos dias sinais claros de que a votação realmente ocorrerá em julho. “Ainda existe um nível de incerteza, mesmo que cada vez menor, e isso dá espaço para esperar alguma alta”, diz Oliveira.
A aprovação do parecer de Moreira na Comissão foi por 36 votos a favor e 13 contrários, sem nenhuma abstenção. Os parlamentares apreciam destaques dos partidos, que pode mexer com o texto final. Com a versão aprovada pela comissão, a economia fiscal em dez anos será de R$ 1,071 trilhão. Em evento em São Paulo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, elogiou o Congresso e disse que a economia fiscal robusta abre espaço para retomada da ideia de lançamento do regime de capitalização.
O analista-chefe da Necton Investimentos, Glauco Legat, diz ver a trajetória da bolsa no curto prazo com um “otimismo moderado”, muito por conta do nível atual do Ibovespa. Ele salienta que o prazo para aprovação antes do recesso é apertado e pode haver muito ruído nas próximas semanas. “Pensando numa questão de timing, a grande questão é a votação na Câmara. Nossa cautela é uma questão de preço. Comprar o Ibovespa aos 103 mil pontos não é mesmo do que entrar aos 90 mil”, diz Legat, ressaltando que, do lado corporativo, as empresas ainda não vão apresentar resultados exuberantes, dada a estagnação da economia.
Ao avanço da reforma da Previdência no Congresso soma-se um quadro externo potencialmente positivo para ativos de risco. Além da trégua na guerra comercial entre China e Estados Unidos, há sinais de afrouxamento monetário por parte do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e do Banco Central Europeu (BCE), o que pode carrear recursos para emergentes.
Por aqui, também há perspectiva de que corte da Selic ainda em julho, caso a proposta da reforma da Previdência seja aprovada antes do recesso parlamentar. E isso também contribui para elevar o interesse pela renda variável, diz Oliveira, da Coinvalores. “Se houver redução da Selic, a bolsa tende a continuar respondendo positivamente”, afirma.