O Ibovespa registrou nesta quarta-feira, 18, seu menor nível de fechamento desde 5 de outubro, antes do ataque sem precedentes do Hamas a Israel no dia 7, encerrando a sessão desta quarta-feira em baixa de 1,60%, a 114.059,64 pontos. Em porcentual, foi a pior queda do índice desde 21 de setembro, quando cedeu 2,15%.
A princípio, o spike do petróleo havia contribuído para algum equilíbrio ao Ibovespa nesse intervalo de incerteza global, mas nesta quarta o avanço de Petrobras (ON +2,34%, PN +2,26%), com o Brent acima de US$ 91 por barril, foi contraponto insuficiente para a queda de 3,67% em Vale (ON) e de até 2,09% (Itaú PN) entre os grandes bancos.
Nesta quarta, oscilou entre mínima de 113.952,11, no fim da tarde, e máxima de 115.907,04 pontos, correspondente ao nível de abertura. Com o Ibovespa no negativo ao longo de toda a sessão, e acentuando perda do meio para o fim do dia, o giro financeiro desta quarta-feira, a R$ 49,2 bilhões, foi fortalecido pelo vencimento de opções sobre o índice. Na semana, o Ibovespa passou nesta quarta para o negativo (-1,46%), ampliando a 2,15% a perda acumulada no mês. No ano, ainda avança 3,94%.
"Há um cenário de incerteza global profunda, em que se acrescenta um conflito no Oriente Médio às dúvidas sobre o nível de juros nos Estados Unidos. De duas semanas para cá, ficou bem menos claro se o Federal Reserve poderá fazer ou não uma pausa em dezembro no ciclo de elevação dos juros de referência. Está bem mais difícil para o investidor montar posição ante o grau geral de incerteza. E isso num contexto de redução significativa da liquidez, do ano passado para cá, o que amplifica o efeito de cada movimento sobre as ações", diz Adriano Yamamoto, diretor comercial da corretora do C6 Bank.
Se no ano passado, o volume diário na B3 estava na faixa de R$ 32 bilhões a R$ 33 bilhões, em 2023 tem ficado entre R$ 20 bilhões e R$ 21 bilhões, aponta Yamamoto – e quando se expurga a participação aproximada de operações de alta frequência, a presença relativa de assets e dos investidores institucionais pode ter se suavizado ainda mais do que o número agregado sugere. Além disso, há a retração do investidor estrangeiro, que chegou a comprar quando os institucionais e os de varejo já buscavam acomodação na Selic.
O cenário de juros longos em torno de 5% nos Estados Unidos drena fluxo antes destinado em parte a emergentes, onde a renda fixa vinha se mostrando muito atrativa também em países como o Brasil, com a Selic em dois dígitos, mesmo quando se considera pontos de entrada favoráveis, em termos de fundamento das empresas e de análise do Ibovespa, vis-à-vis os preços disponíveis. Ou seja, está bem difícil oferecer Bolsa aos investidores como alternativa aos juros, em cenário macro ainda pautado por elevado nível de incerteza e de aversão a risco, apesar dos descontos que vão se acumulando em certos papéis.
Nesta quarta-feira, em evento promovido pelo Credit Suisse, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apontou que o spike global observado nos juros de mercado tem um componente que reflete a piora na percepção fiscal – ou seja, os investidores estão exigindo taxas maiores para financiar os governos, ante o ritmo dos gastos públicos. Campos Neto observou também que o Credit Default Swap (CDS) dos Estados Unidos, usado como métrica de risco-país, tem mostrado piora relevante que, segundo ele, parece estar relacionada ao risco fiscal, reportam os jornalistas Cícero Cotrim e Eduardo Rodrigues, do <i>Broadcast</i>, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Nesse contexto, "a única notícia positiva para o mercado financeiro, nesta quarta, foi o PIB da China no terceiro trimestre, acima do esperado, com a injeção de dinheiro na economia para tentar alcançar a meta de crescimento do ano, de 5%. Por outro lado, quando se vê as leituras combinadas dos dados do varejo e do setor de construção nos Estados Unidos, ressurge a preocupação sobre a inflação americana, que colocou nesta quarta os juros de 10 anos a 4,90% no país, em nível muito alto", diz Marco Prado, CIO da BullSide Capital.
Ele acrescenta que o movimento nos juros de mercado nos EUA mais uma vez estressou as bolsas em todo o mundo. "Só não foi pior na B3 porque Petrobras voltou a subir nesta quarta, em máxima histórica para a ação, contrariando a tudo e a todos", acrescenta Prado, em referência à percepção dos que acreditavam que a precificação do ativo pioraria sob o novo governo.
Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta quarta-feira, além de Petrobras, destaque também para Magazine Luiza (+2,37%), JBS (+1,05%) e BB Seguridade (+0,89%) – na sessão, 14 dos 86 papéis da carteira do índice conseguiram evitar perdas. No lado oposto, MRV (-10,08%), Gol (-7,18%) e Assai (-6,48%).