Sob influência do mau humor externo, dadas as incertezas com relação ao pacote de estímulos fiscais nos Estados Unidos, e ainda, localmente, com dúvidas a respeito dos movimentos políticos no âmbito da questão fiscal, o Ibovespa teve um dia de perdas na sessão desta quarta-feira, 9. O principal índice à vista do mercado acionário doméstico conseguiu encerrar aos 113.001,16 pontos, queda de 0,70%. O giro financeiro foi de R$ 28 bilhões.
Ainda assim, segundo avaliação do Itaú BBA, o Ibovespa não perdeu nenhum suporte inicial, entre 112.100 e 110.200 pontos. "Se perder esse suporte, o índice ampliará o movimento de realização de lucros e encontrará próximos suportes em 108.800 e 105.500 pontos", dizem os analistas gráficos da instituição.
Para Adilson Bonvino, da Unnião Investimentos, o esfriamento do Congresso americano sobre o pacote de estímulos pesou, mas também a desconfiança sobre a resolução do problema fiscal no Brasil. "As declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, dão alento imediato, mas temos um problema fiscal sério a resolver", ressaltou.
Hoje pela manhã, em um evento do Milken Institute, Guedes, reafirmou que, de nenhuma forma, o governo vai transgredir os gastos e reiterou que os benefícios – leia-se auxílio emergencial – que ajudaram o Brasil a se recuperar serão removidos em 31 de dezembro. Outra declaração nesse sentido veio do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que disse que não vai pautar a prorrogação do decreto de calamidade pública nem da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do orçamento de guerra. Ambas as normas valem apenas para 2020 e liberaram o governo do cumprimento das metas do orçamento devido à pandemia do novo coronavírus. No entanto, Maia, em entrevista coletiva, não poupou críticas ao governo no contexto da eleição para a presidência da Câmara, avisando que há risco de comprometer o andamento da pauta reformista.
Em uma sessão já sob o signo da cautela, essas últimas declarações ajudaram na desvalorização do real frente ao dólar em um ritmo maior do que os demais pares emergentes. O dólar à vista fechou em alta de 0,87%, a R$ 5,1722.
Na parte da tarde, foi a vez do presidente da Comissão Mista de Reforma Tributária, senador Roberto Rocha (PDB-MA), anunciar que a Reforma Tributária será apreciada no ano que vem.
"De fato, há um medo do problema fiscal e político permeando os negócios e o mercado pode estar aguardando para ver", disse Bonvino, ressaltando que, especialmente hoje, há uma cautela embutida por conta da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom).
"Além do suspense com relação ao texto final da PEC emergencial, que, por enquanto, sinaliza compromisso do governo com o fiscal, mas sem dúvida deixou o mercado com um pé atrás vide a flexibilização do teto especulada no começo da semana, a queda de hoje deve-se especialmente ao balde de água fria com relação ao pacote de estímulos nos EUA", diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora.
Os congressistas pretendem votar o pacote até essa sexta, junto ao novo orçamento, e o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, afirmou que os congressistas democratas rejeitaram as propostas dos republicanos e também são contra a proposta de US$ 916 bi do atual secretário do Tesouro, Steven Mnuchin. "Essa discussão nos 45 do segundo tempo não era esperada pelo mercado e nem mesmo sinalizada por ambas classes congressistas, o que acaba gerando uma volatilidade adicional. A questão agora é saber se vão defender um plano maior (o que não duvido) e se haverá força suficiente para aprovar no fim de mandato", afirmou o analista da Clear.
No dia nublado de hoje, ações de primeira linha de Itaú Unibanco e Bradesco conseguiram sustentar ganhos, as preferenciais das duas instituições financeiras subiram 0,59% e 0,27%, respectivamente. Após frequentar o terreno negativo, em sintonia com os contratos futuros de petróleo no exterior, os papéis ON e PN da Petrobras encerraram em alta de 0,11% e 1,05%.