Estadão

Ibovespa volta a renovar máxima do ano, em alta de 0,73%, a 116,1 mil pontos

Declarações de tom "hawkish" do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, chegaram a conter o ímpeto do Ibovespa no começo da tarde, com os três índices de Nova York derivando então para o negativo, mas a referência da B3 encontrou fôlego para defender a linha dos 116 mil pontos, alcançada nesta segunda-feira no intradia e em fechamento pela primeira vez desde meados de setembro passado. O índice fechou em alta pela quarta sessão seguida, nesta segunda de 0,73%, a 116.154,53 pontos, entre mínima de 115.207,78 e máxima de 116.359,55, maior nível intradia desde 14 de setembro (117.269,82), saindo de abertura aos 115.306,78. O giro foi e R$ 30,0 bilhões. No mês, o Ibovespa acumula ganho de 2,66% e, no ano, de 10,81%,

"De um lado, apesar de a Turquia – mediadora das negociações – sinalizar que Ucrânia e Rússia deram um impulso nas conversas pelo fim da guerra no fim de semana, a falta de sucesso de tentativas anteriores e continuidade nos ataques em solo ucraniano mantêm viva a incerteza na mente dos investidores", aponta em nota a Guide Investimentos. "Do outro, o receio de que um aperto monetário agressivo por parte do Fed, que deve priorizar o combate à inflação, resulte em uma forte desaceleração da atividade econômica segue entre os principais pontos de cautela", acrescenta a casa, chamando atenção para movimento recente, de "forte abertura dos juros dos Treasuries, que contou até com a inversão de alguns vértices (5-3 anos e 10-5 anos) – sinal de que uma recessão pode estar próxima".

Nesta segunda, o presidente do Federal Reserve, durante evento organizado pela Associação Nacional de Economia para Empresas (Nabe, na sigla em inglês), disse ser necessário que o BC americano retorne a uma abordagem "mais neutra" para a política monetária, que pode chegar a uma "postura restritiva" em benefício da estabilidade de preços, na medida em que o mercado de trabalho está "extremamente apertado no país, mais do que antes da pandemia. "Não vejo razão para pensar que a probabilidade de uma recessão no próximo ano seja elevada", ressalvou Powell.

Assim, ele não descarta cenário de aperto monetário mais rápido do que o atual, caso o prolongado período de escalada de preços impulsione as expectativas de inflação a nível insustentável. "Se concluirmos que é apropriado agir de forma mais agressiva, elevando a taxa dos Fed Funds em mais de 25 pontos-base em uma reunião ou reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto, FOMC, o faremos", afirmou o presidente do BC americano. A fala de Powell – conhecido pela moderação quando o Fed precisa assumir, coletivamente, tom mais duro – causou sobressalto.

Até as declarações dele, S&P 500 e Nasdaq conseguiam sustentar algum ganho na sessão, mas depois se alinharam ao Dow Jones no negativo – no fechamento, as perdas desta segunda-feira ficaram entre 0,04% (S&P 500) e 0,58% (Dow Jones). Aqui, apesar da rateada no começo da tarde em paralelo ao movimento em Nova York, o Ibovespa, em dia de fraca agenda doméstica, renovou pela segunda sessão consecutiva o maior nível de fechamento do ano, e também desde setembro, tendo ainda como referência o encerramento de 14 daquele mês, então aos 116.180,55 pontos.

Enquanto o minério de ferro teve leve variação nesta segunda-feira na China, o petróleo manteve alta firme, acima de 7%, com o Brent negociado a US$ 115,62 por barril no fechamento na ICE. Ataques do grupo Houthi do Iêmen, alinhado ao Irã, causaram uma queda temporária na produção de joint venture de refino da Saudi Aramco em Yanbu, aponta em nota a Nova Futura Investimentos. "Além disso, há países da União Europeia pensando em aderir ao embargo (americano) do petróleo russo", acrescenta. A falta de avanço em direção a um cessar-fogo no Leste Europeu também é decisiva para manter as cotações da commodity sob pressão.

Com o fluxo de fora ainda contribuindo para dar sustentação ao Ibovespa, os segmentos tradicionais e mais líquidos, como grandes bancos e commodities, ficaram entre os vencedores do dia, com destaque para Itaú PN (+2,47%), Vale ON (+2,83%) e Petrobras (ON +3,35%, PN +3,76%).

Assim, a PN de Petrobras teve o maior avanço da sessão na carteira Ibovespa, à frente de outra empresa do setor (3R Petroleum +3,70%), de Bradespar (+3,49%) e da ON da própria estatal (+3,35%). No lado oposto, Banco Inter (-8,88%), Dexco (-4,42%) e Braskem (-3,79%).

Nesta semana, a guerra no Leste Europeu completa um mês, estendendo-se bem além do que os primeiros dias da invasão faziam crer. "Nas duas semanas seguintes (ao começo da guerra), ETFs ligados a cestas de ativos russos caíram significativamente, e o Brasil virou foco de atenção entre os emergentes para recursos estrangeiros, com o bloqueio da Rússia", observa Rodrigo Franchini, head de relações institucionais da Monte Bravo Investimentos. O forte desempenho das commodities visto desde então mantém a B3 entre as opções preferenciais, no momento em que a inflação global preocupa ainda mais – e o cardápio de matérias-primas oferece proteção, ou mesmo ganho, para os investidores.

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