Mundo das Palavras

Imagens de Teresa

 


Quem gosta de estudar a História da Igreja, em algum momento, certamente, se surpreendeu com a obra de Teresa de Ávila, a religiosa-escritora que viveu entre 1515 e 1582, e, foi proclamada “Doutora da Igreja”, pelo Papa Paulo VI. No capítulo XXIX da sua autobiografia, intitulada “Livro da Vida”, Teresa inseriu um texto no qual se misturam misticismo e erotismo. Ela escreveu: “O anjo tinha na mão um dardo de ouro, de ponta grande, parecendo-me manter na extremidade um pouco de fogo. Tive a impressão de que o cravara diversas vezes em meu coração e que, sempre que o tirava, com ele saíam as minhas entranhas, deixando-me num tão intenso amor a Deus que a violência deste fogo me fazia gritar e os meus gritos eram misturados de tão extremo gozo que não podia desejar-me livre de tão agradável dor”. Não foi por acaso que o escritor surrealista português Mário Henrique Leiria inseriu este texto na obra “Clássicos do Erotismo”, uma antologia preparada por ele para a Editora Samambaia, de Brasília. 


Menos de meio século após a morte de Teresa, Gian Lorenzo Bernini começou a esculpir as imagens verbalizadas por ela naquele texto. Este trabalho despertou a atenção de dois grandes intelectuais da França no século XX: o psicanalista Jacques-Marie Émile Lacan, e, o escritor Georges Bataille.


Lacan fez o seguinte comentário sobre a Teresa esculpida por Bernini, em seu livro “El seminario. Libro 20 Aun”: “basta olhar para ela para saber que ela goza. E do que goza? É claro que o testemunho essencial dos místicos é justamente o de dizer que eles o experimentam (o gozo), mas não sabem nada dele”. Já Bataille detecta a presença de sexualidade até na roupagem religiosa daquela escultura de Bernini, no seu livro “O erotismo”. Diz ele que, na escultura, o prazer físico se expande pelas dobras das roupas “em ondulações gozosas irreprimíveis”.

Posso ajudar?