Com a inflação disseminada em fevereiro, tanto os mais pobres quanto os mais ricos sentiram no bolso a carestia em fevereiro, mostram os dados o Indicador Ipea de Inflação por Faixa de Renda, divulgado nesta quarta-feira, 16, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Enquanto a taxa das famílias mais pobres apontou alta de 1,0%, a faixa de renda mais alta registrou avanço de 1,07%. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial usado pelo Ipea nos cálculos, ficou em 1,01% no mês passado.
No caso dos mais pobres (famílias com renda domiciliar até 1.808,79 por mês, conforme a classificação do Ipea), os alimentos foram os vilões da inflação. "Além dos aumentos registrados nos cereais, farináceos e panificados – como feijão (9,4%), farinha de trigo (2,8%), biscoito (2,3%), macarrão (1,1%) e pão (1,0%) -, o forte crescimento dos preços dos alimentos in natura, especialmente da batata (23,5%), da cenoura (55,4%) e do repolho (25,7%), aliado à alta do café (2,5%) e do leite (1,0%), ajuda a explicar esta contribuição altista para a inflação das famílias de menor renda", diz a nota do Ipea.
Para os mais ricos (famílias com renda domiciliar superior a 17.764,49 por mês, conforme a classificação do Ipea), as mensalidades escolares pesaram nos orçamentos. Segundo o Ipea, "os reajustes de 6,7% das mensalidades escolares e de 3,9% dos cursos extracurriculares fizeram do grupo educação o maior foco inflacionário em fevereiro".
A gasolina, cuja alta de preços na bomba afeta diretamente mais os consumidores de alta renda (que usam o carro particular com frequência maior), não atrapalhou tanto em fevereiro, porque o forte reajuste dado pela Petrobras nos combustíveis vendidos nas refinarias foi aplicado já em março.
Embora a inflação disseminada de fevereiro tenha atingido tanto pobres quanto ricos, em um ano, as famílias de renda menor têm sofrido mais. No acumulado em 12 meses, a inflação para os mais pobres está em 10,9%, 1,2 ponto acima dos 9,7% para as famílias de maior renda.
Na ótica de um ano, os gastos com moradia e alimentação apertam o orçamento dos mais pobres, enquanto os combustíveis são os vilões da inflação dos mais ricos.
"Para as famílias de renda mais baixa, a maior pressão inflacionária nos últimos doze meses reside no grupo habitação, impactado pelos reajustes de 28,1% das tarifas de energia elétrica e de 27,6% do gás de botijão", diz a nota divulgada pelo Ipea. "Adicionalmente, o comportamento dos alimentos no domicílio, em especial os reajustes de 8,6% das carnes, de 19,6% de aves e ovos, de 43,8% do açúcar e de 61,2% do café, também provocou impactos altistas significativos sobre a inflação no período, sobretudo para as camadas de renda mais baixa", continua o texto.
Já para "o segmento de renda mais alta", a pressão inflacionária vem dos aumentos de 32,6% da gasolina, de 36,2% do etanol e de 27,7% do transporte por aplicativo, segundo o Ipea.