O discurso dos dirigentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) parece ter se refletido nos dados operacionais do primeiro semestre. A instituição de fomento liberou 5% menos recursos (R$ 84,086 bilhões) em relação à primeira metade de 2013, como vinha dizendo o presidente do banco, Luciano Coutinho, e direcionou o foco aos projetos de infraestrutura, que receberam 13% mais, na contramão do total. Geralmente, o BNDES divulga dados nominais, sem descontar a inflação.
Se considerada a variação de preços, a queda real nos desembolsos é maior do que 5%. No primeiro semestre do ano passado, o crescimento dos desembolsos foi de 65%, também sem considerar a inflação.
Diante das desconfianças do mercado em relação à política fiscal, por causa dos sucessivos aportes do Tesouro no BNDES e o custo dessas operações, o governo vem sinalizando, desde setembro de 2013, com uma moderação no crescimento dos desembolsos. Em novembro, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a estimar a liberação de R$ 150 bilhões neste ano, o que seria 27% abaixo (ainda sem descontar a inflação) dos R$ 190,4 bilhões de 2013.
O discurso começou a mudar com os dados de fraqueza da atividade econômica, à medida que o ano avançava. Em maio, Coutinho começou a sinalizar preocupações com a manutenção dos investimentos e com o crescimento do crédito privado para as empresas e anunciou que o BNDES precisaria de mais recursos do Tesouro. De fato, houve um aporte de mais R$ 30 bilhões em junho.
Já o foco nos projetos de infraestrutura estava colocado desde janeiro, quando começou a valer a nova política operacional do BNDES. Com as novas regras, setores prioritários (infraestrutura, indústria de bens de capital e os projetos de inovação) teriam maiores prazos e menores juros. O objetivo é emprestar menos com a TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo, hoje em 5% ao ano), juros baixos garantidos por recursos recebidos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e dos aportes do Tesouro Nacional.
Isso permitiria ao banco pelo menos desacelerar o crescimento do montante liberado ano a ano e, de quebra, reduzir a necessidade de aportes do Tesouro. O plano foi em parte adiado, diante do receio de queda nos investimentos. Algumas consultorias projetam recuo de 5% nos investimentos neste ano. Por isso, não é possível dizer se o aumento de 13% nos desembolsos para infraestrutura no primeiro semestre ante igual período de 2013, para R$ 30,944 bilhões, é consequência da nova política operacional.
Por outro lado, os recursos liberados para indústria e agropecuária caíram. No primeiro caso, foram R$ 22,199 bilhões, tombo de 25% em relação à primeira metade de 2013. Para a agropecuária, foram R$ 7,568 bilhões, 19% abaixo do registrado no primeiro semestre do ano passado. Já o setor de comércio e serviços recebeu mais do BNDES: foram R$ 23,376 bilhões de janeiro a junho, alta de 5%. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.