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Irã: Aumento da repressão e morte de manifestantes alimentam novos protestos

Os protestos que começaram após a morte da jovem curda-iraniana Mahsa Amini têm crescido e virado levantes ainda mais violentos conforme a repressão policial fere e mata manifestantes no Irã. Tiros foram registrados nesta sexta-feira, 28, após o funeral de um manifestante morto esta semana, com relatos de ao menos seis mortos, incluindo um menino de 12 anos em Zahedan.

Os funerais dos manifestantes mortos pela polícia parecem ter se tornado o estopim para novos protestos, com relatos de autoridades pressionando familiares a não velarem seus entes vítimas da repressão, segundo a ONU. Nesta mesma semana, a morte de Amini completou 40 dias, marcando o fim do luto oficial, época na qual as ONGs temem um aumento da repressão.

O Hengaw, um grupo de direitos humanos com sede na Noruega, disse que as forças de segurança mataram pelo menos três manifestantes na cidade de Mahabad, perto da fronteira do Irã com o Iraque, na noite de quinta-feira, 27.

Os tiros foram disparados depois que as pessoas que prestavam homenagem a Ismail Mauludi, um manifestante de 35 anos morto na noite de quarta-feira, deixaram seu funeral e se dirigiram ao gabinete do governador. "Morte ao ditador", gritavam os manifestantes, usando um slogan dirigido ao líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, enquanto o gabinete era incendiado.

No total, oito manifestantes em quatro províncias – Curdistão, Azerbaijão Ocidental, Kermanshah e Lorestão – foram mortos entre a noite de quarta e quinta-feira, disse a Anistia Internacional. A ONG advertiu contra a inação do Conselho de Direitos Humanos da ONU, "que encorajaria as autoridades iranianas a continuarem a repressão contra os enlutados e os manifestantes".

Desde a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, seis semanas atrás, os protestos, liderados principalmente por mulheres, não perderam força. A jovem morreu em 16 de setembro, três dias depois de ser presa pela polícia da moralidade por supostamente violar o código de vestimenta imposto às mulheres.

O movimento é alimentado pela indignação com o número de pessoas mortas. São pelo menos 250 vítimas fatais desde meados de setembro, segundo o relator especial da ONU sobre os direitos humanos no Irã, Javaid Rehman. Na quinta, ele denunciou a brutalidade do regime iraniano e pediu a criação de um mecanismo internacional de investigação.

O escritório de direitos humanos da ONU expressou nesta sexta preocupações com o tratamento aos manifestantes detidos e disse que as autoridades iranianas se recusam a liberar alguns dos corpos.

Segundo Ravina Shamdasani, porta-voz do Escritório do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, em entrevista coletiva em Genebra, há informações de autoridades colocando condições para a liberação dos corpos, pedindo às famílias que não realizem funeral ou falem com a imprensa. A porta-voz acrescentou que manifestantes detidos não têm recebido atendimento médico.

As ONGs temem um aumento da repressão após o fim do luto de 40 dias pelos primeiros mortos do movimento. Na quarta, milhares de pessoas se reuniram em Saghez, cidade natal de Mahsa Amini na província do Curdistão, para marcar o fim do luto oficial. No dia seguinte, também houve incidentes perto de Khoramabad, onde uma multidão se reuniu no túmulo de Nika Shahkarami, de 16 anos, que morreu 40 dias antes, de acordo com vídeos verificados.

Frente às repercussões negativas da violência policial e a possibilidade de ela estar alimentando as revoltas, analistas observam que as autoridades iranianas estão tentando reprimir os protestos por outros meios. "No momento, parecem estar tentando outras técnicas – como prisões e intimidações, cortes na Internet, ou até mesmo abatendo alguns manifestantes", disse Henry Rome, especialista em Irã do Washington Institute. "Mas duvido que as forças de segurança tenham descartado a possibilidade de uma repressão muito mais violenta".

Os protestos se espalharam pelo Irã, envolvendo mais de 125 cidades. Mais de 200 pessoas foram mortas e quase 14.000 foram presas, de acordo com o grupo Ativistas dos Direitos Humanos no Irã. Eles também se expandiram além dos protestos contra o véu obrigatório do Irã, ou hijab, para mulheres, com manifestante pedindo a queda do regime xiita dos clérigos iranianos.

<b>Mais tiros contra manifestantes</b>

Agentes das forças de segurança abriram fogo contra manifestantes na cidade de Zahedan nesta sexta, 28, onde os protestos foram inicialmente desencadeados por acusações de estupro de uma adolescente por um policial. A cidade se tornou a área de agitação mais mortal após a morte de Mahsa Amini, de 22 anos, em 16 de setembro.

Ativistas estimam que somente em Zahedan cerca de 100 pessoas foram mortas desde que uma manifestação em 30 de setembro desencadeou uma resposta policial violenta.

As manifestações se tornaram a maior ameaça ao governo teocrático do país desde os protestos do Movimento Verde em 2009. As mulheres continuam a remover seus hijabs durante os protestos de rua, à medida que cresce a pressão internacional sobre o governo do Irã.

Vídeos dos protestos de sexta-feira em Zahedan ao redor da Grande Mesquita Makki da cidade supostamente incluíam o som de tiros. Imagens posteriores mostraram manchas de sangue em azulejos e impressões de palmas ensanguentadas no pátio da mesquita, com ativistas dizendo temer que duas pessoas tivessem sido mortas.

É difícil precisar o número exato de vítimas e até verificar os acontecimentos, já que o governo tem promovido apagões na internet do país a fim de impedir a disseminação de vídeos e imagens dos protestos. O grupo de defesa da internet NetBlocks disse nesta sexta o acesso online parecia ter sido interrompido em Zahedan.

As autoridades iranianas não reconheceram imediatamente a violência em Zahedan, uma cidade na província iraniana de Sistão e Baluchistão, localizada a cerca de 500 km a sudeste da capital do país, Teerã.

No entanto, a agência de notícias estatal Irna divulgou uma declaração do conselho de segurança da província na sexta-feira dizendo que o chefe de polícia e outro policial foram demitidos por terem lidado com o protesto de 30 de setembro. A declaração pela primeira vez reconheceu que a polícia atirou e matou pessoas que rezavam em uma mesquita próxima.

A versão do conselho de segurança é de que 150 pessoas, incluindo homens armados, atacaram uma delegacia de polícia e tentaram tomá-la durante os protestos. "O conflito armado e os tiros da polícia, infelizmente, levaram ao ferimento e morte de vários fiéis e transeuntes inocentes que não tiveram nenhum papel nos distúrbios", disse o comunicado.

No entanto, a nota diz que apenas 35 pessoas foram mortas, enquanto ativistas estimam que cerca de três vezes esse número foi morto pelas forças de segurança, que também teriam disparado de helicópteros contra manifestantes.

<b>Universidade de elite vira centro de protestos</b>

Além das ruas, os protestos têm contado com ampla participação de estudantes, com especial foco nas Universidades. Conforme os protestos se intensificam, a Universidade de Tecnologia de Sharif, a escola técnica de elite conhecida como "MIT do Irã" emerge como um centro inesperado de protestos.

Milhares de ex-alunos da Universidade Sharif alimentam as indústrias mais sensíveis do Irã, incluindo energia nuclear e aeroespacial. Um dos conselheiros mais próximos do líder supremo aiatolá Ali Khamenei ensinou lá por décadas.

"Nós nos tornamos politicamente ativos porque não há nada a perder", disse um estudante de engenharia elétrica e ativista da associação estudantil, que falou sob condição de anonimato. "Do jeito que as coisas estão agora no Irã, você tem que emigrar e deixar sua família e amigos ou ficar e lutar por seus direitos."

Nas últimas semanas, os campi universitários tornaram-se um foco de oposição após anos de inatividade. "Os alunos chegaram à conclusão de que não alcançarão seus direitos neste quadro", disse Mohammad Ali Kadivar, um acadêmico iraniano no Boston College. "Eles estão exigindo o fim da República Islâmica."

"Seja verdade ou não, as pessoas têm a sensação de que é mais seguro protestar no campus", disse Moeen, um ex-aluno da Universidade Sharif que observou os protestos e falou sob a condição de que apenas seu primeiro nome fosse usado. "É mais fácil do que orquestrar algo em um quadrado aleatório em Teerã. Existem sindicatos estudantis. Há liderança." (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)

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