O presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou nesta sexta-feira, 23, a normalização das relações diplomáticas entre Israel e Sudão. É o terceiro país árabe a reconhecer os Estado israelense nos últimos dois meses, sempre com mediação americana. "Fizeram as pazes", disse o presidente a jornalistas no Salão Oval, após conversa por telefone com os premiês de Israel, Binyamin Netanyahu, e do Sudão, Abdalla Hamdok.
Em agosto, os Emirados Árabes se tornaram o primeiro país do Golfo Pérsico a estabelecer relações diplomáticas com Israel. Algumas semanas depois, o Bahrein seguiu o exemplo. Foram os primeiros acordos do tipo desde os anos 90. Antes, entre os governos árabes, só Egito, em 1979, e Jordânia, em 1994, haviam normalizado as relações com os israelenses.
Apesar de mudar o rumo da relação entre Sudão e Israel, a notícia foi importante também para Trump, que luta pela reeleição e está atrás do rival democrata Joe Biden nas pesquisas. Apesar de ter tido uma boa performance no debate de quinta-feira, o último encontro entre os dois, a dinâmica da disputa não mudou e o presidente precisa de momentos como o de ontem se quiser virar o jogo. "Estamos preparando muitos outros acordos", disse Trump.
Netanyahu, que tinha uma relação ruim com Barack Obama e Biden, sabe que pode estar vivendo os últimos momentos de um alinhamento automático com a Casa Branca – e não economiza elogios ao presidente americano. "Estamos expandindo o círculo da paz muito rápido graças a sua liderança", disse o premiê. "Temos ao menos outros cinco países que querem se juntar (ao acordo)", respondeu Trump.
Os acordos em série que aproximam árabes e israelenses são também uma vitória do genro do presidente, Jared Kushner, enviado especial de Trump para o Oriente Médio. A falta de experiência fez com que a indicação fosse recebida com ceticismo no mundo diplomático.
Kushner, que costurou pessoalmente o acordo entre Israel e Sudão, exibe no currículo um feito que nenhum secretário de Estado conseguiu nos últimos 30 anos. "É claro que isso representa um grande avanço para a paz entre Israel e o Sudão", disse Kushner. "Mas fazer acordos de paz não é tão fácil quanto estamos fazendo parecer. Eles são difíceis de concluir."
Na segunda-feira, 19, a Casa Branca já havia anunciado a intenção de retirar o Sudão da lista de Estados que apoiam o terrorismo, o que seduziu o novo governo sudanês. Desde a queda do regime de Omar Bashir, em abril de 2019, o país é dirigido por um governo de transição, em que militares e civis compartilham o poder até as eleições previstas para 2022.
O país enfrenta uma crise econômica e havia pedido que os EUA retirassem o Sudão da lista de países que apoiam o terrorismo, um obstáculo para os investimentos. Em contrapartida, além do acordo com Israel, o governo sudanês depositou US$ 335 milhões para compensar os sobreviventes e parentes dos ataques contra alvos americanos, na época em que Bashir acolhia a cúpula da Al-Qaeda. O ex-ditador é considerado responsável pelos os atentados contra as embaixadas dos EUA no Quênia e na Tanzânia, em 1998, e pelo ataque a bomba, em 2000, contra o destróier USS Cole, no Iêmen.
Apesar de ter recebido elogios de outros países árabes, como Egito e Arábia Saudita, o acordo de ontem não foi unanimidade. O movimento islâmico palestino Hamas – que sempre foi aliado do Sudão – disse que o país está indo na direção errada. "É um pecado político que prejudica a causa palestina", afirmou Hazem Qasem, porta-voz do grupo. "Ninguém tem o direito de falar em nome do povo palestino e em nome da causa palestina", reclamou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>