Sem as celebridades que convocaram manifestantes para a passeata, como os atores Malvino Salvador e Marcio Garcia, o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), que na quinta-feira protocolou pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara, atraiu atenções no protesto de Copacabana. Antes das 8h ele já estava na praia do Leblon reunido com eleitores, com os quais seguiu em caminhada. Bolsonaro tirou dezenas de selfies no trajeto, mas quando seu aventado para subir no carro de som e discursar, foi vaiado por uns e aplaudido por outros.
“Dilma e o PT nunca foram simpáticos à democracia. Ela lutou na ditadura com recursos de quem? Cuba!”, afirmou o parlamentar. Bolsonaro mora na Barra da Tijuca e foi acompanhado de quatro dos cinco filhos, três com mandatos parlamentares. Em discurso ainda no Leblon, disse que “idiota” é “um elogio” para Dilma e debochou dos apoiadores da presidente. “Eles agora estão dormindo; vagabundo acorda tarde.”
Chamado de “mito” e “futuro presidente” por seguidores, Bolsonaro foi rechaçado por manifestantes que desaprovam suas bandeiras conservadoras. Assegurou não ter se incomodado com o fato de não ter podido subir no carro de som. “Não posso ser unanimidade”, reconheceu.
Bolsonaro foi o único político que mobilizou manifestantes. Os organizadores fizeram questão de não citá-lo durante as falas ao microfone.
“Queremos nos manter assim, não agradecemos a presença dele, nem de ninguém. Exigimos a anulação das eleições, porque houve fraudes em urnas, e depois vimos o estelionato eleitoral, porque Dilma fez várias coisas que prometeu que não faria”, afirmou o empresário Rodrigo Fonseca, de 25 anos, do grupo Revoltados online.
As faixas pediam intervenção militar no Brasil e posicionavam-se não só contra Dilma, mas também contra o ex-presidente Lula e o ministro do Supremo Tribunal Federal Dias Toffoli. Uma pedia “o fim da doutrina marxista nas escolas”. Três amigas na faixa dos 20 anos, que não quiseram se identificar, elogiavam “o clima da passeata”: “As pessoas esbarram em você e pedem desculpas. É uma manifestação chique”.
O vice-presidente Michel Temer (PMDB) foi rechaçado como possível novo presidente em caso de impeachment, entre os manifestantes entrevistados pelo Estado.
“Prefiro os militares, mas eles não têm força. No Brasil não existiu ditadura, e sim um regime diferenciado”, acredita a professora Luciana Garcia, de 42 anos, que estava com o filho, de oito. Eles saíram de Niterói de ônibus às 6 h para acompanhar a caminhada com Bolsonaro – a mobilização em torno dele contou com 150 pessoas aproximadamente.