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Jogadores brasileiros chegam em Guarulhos e contam seus dramas na guerra da Ucrânia

Os jogadores brasileiros Renan Oliveira e Maycon Barberan, que atuam na Ucrânia e conseguiram fugir da guerra, foram os primeiros a desembarcar no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulho, na manhã desta terça-feira (1°). O país está sob ataque da Rússia desde o dia 24. Fernando dos Santos chegou um pouco mais tarde no dia do seu aniversário de 23 anos. “Uma data mais especial”, disse o atacante do Shakhtar Donetsk

O reencontro com familiares foi marcado por choro e alívio, após dias de medo, insegurança, fome e longas caminhadas para conseguir atravessar a fronteira e deixarem a região de conflito. Atleta do Kolus, da Ucrânia, Renan Oliveira relata que caminhou oito horas ao lado de uma amiga, que também tentava deixar o país, até a Romênia.

Depois, seguiram de ônibus para Viena, onde pegaram avião até Frankfurt, na Alemanha e, por fim, embarcaram para o Brasil.

“Foi muito transtorno. Tem 3 dias que eu estou tentando sair do país, a gente teve que pegar uma van, a gente estava em Kiev, a gente teve que pegar uma van até uma cidade próxima à fronteira da Romênia e de lá a gente teve que seguir caminhando aí umas 8 horas de fila, de espera”, narrou.

“Chegando na Romênia o pessoal atendeu a gente super bem lá, colocou a gente em hotel pra tomar um banho e depois seguir viagem para tentar pegar o voo para sair do país”, complementou.

Ao desembarcar, ele relatou o alívio e o desejo de estar ao lado dos parentes e se recuperar de tudo que viveu nos últimos dias.

“Eu preciso descansar, preciso tomar um banho agora, preciso ficar um pouco com eles [família] pra eles sentirem que eu estou bem, que minha cabeça ainda tá tentando assimilar tudo isso que tá acontecendo, em pleno século 21 a gente tá vivendo uma guerra, acho que é inadmissível, preciso sentar, dar um abraço na minha família”.

Meio-campista no Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, Maycon Barberan, de 24 anos, chegou a São Paulo ao lado da esposa e os dois filhos do casal. Eles e os pais do jogador ficaram os últimos dias abrigados em um bunker do hotel em Kiev. “Guerra não deveria existir, os ucranianos já são um povo muito sofrido”, disse ele após conseguir deixar o país.

Caroço de maçã

Muito emocionada, a esposa do jogador, Lyarah Vojnovic Barberan, de 23 anos, relatou os momentos de desespero e disse que tentava cantar para tranquilizar os filhos. “Como mãe posso dizer que só tive desespero quando vi meus filhos com fome e eu mantendo a calma para eles não se desesperarem.”

Ela também contou que chegou a comer caroço de maçã para matar a fome. Após os dias de pânico, a jovem afirma que não há ainda como saber sobre o futuro da família. Por agora, ela deseja ficar ao lado dos parentes.

“O momento agora é de curtir o meu pai, a minha mãe, de cuidar da minha mente, que tá muito cansada, fragilizada, cuidar da minha família e o resto eu sei que está na mão do melhor.”

Fernando dos Santos disse estar feliz por ter chegado em casa. “Meu aniversário eu sempre passo longe da minha família, hoje, não tenho nem palavras, já tenho voo pra BH, vou lá ver minha família”, disse Fernando.

Nascido em Belo Horizonte, ele jogava no time ucraniano quando as tropas russas decidiram invadir a região do país onde ele estava. Fernando foi então seguiu com a esposa para a capital da Ucrânia e em Kiev se juntou com outros atletas brasileiros de diversos times ucranianos no banker de um hotel. Até conseguirem escapar de trem na fronteira com a Moldávia, outro país europeu, e depois seguirem de ônibus até a Romênia, de onde embarcaram num voo com escala na Alemanha até o Brasil.

“Cara, primeira vez na minha vida que eu passo por um sufoco desse, foi bastante tenso, ainda bem que eu estava com a minha esposa lá, se eu tivesse sozinho, não sei o que eu ia fazer”, disse ele ao falar com os jornalistas brasileiros que o aguardavam no saguão de Cumbica.

Um dos momentos mais tensos, segundo ele foi quando tiveram de sair do bunker onde estavam e pegarem um trem para fugir. “O momento, a correria, não sabia se pisasse na rua poderia acontecer alguma coisa, então isso aí, não poder pisar na rua, é uma das coisas mais difíceis.”

Conflito

A Rússia iniciou uma operação de invasão da Ucrânia na madrugada da última quinta-feira (24). Desde então, os brasileiros passaram dias de angústia até conseguirem deixar o país.

O Ministério das Relações Exteriores informou neste domingo (27), em nota, que 80 brasileiros já deixaram a Ucrânia e foram para países fronteiriços.

Ainda, segundo o Itamaraty, cerca de 100 brasileiros registrados na embaixada do Brasil em Kiev ainda estavam em solo ucraniano. A reportagem não conseguiu entrar em contato com o órgão nesta terça (1º) para atualizar esse número.

A Rússia exige que a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) interrompa sua expansão em direção ao leste. Putin disse considerar inaceitável a filiação da Ucrânia à aliança militar comandada pelos Estados Unidos.

Segundo Putin, a Rússia se viu sem escolhas a não ser se defender contra o que ele classificou como ameaças da Ucrânia – um estado democrático com uma população de 44 milhões de pessoas.

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