A crise que o Brasil atravessa era previsível. Dentro e fora do país ela foi reiteradamente anunciada. Quem se detiver a ler dois livros importantes, verá que todos os avisos foram endereçados, mas não foram ouvidos. Francis Fukuyama, o historiador que anunciou “o fim da história”, coordenou a obra “Ficando Para Trás – Explicando a Crescente Distância entre a América Latina e os Estados Unidos”. Foi publicada em 2008, no auge da crise que afetou o Império hegemônico do norte.
Talvez a explicação esteja na origem. Os “quakers”, quando deixaram a Inglaterra e foram para a América, levaram os ossos dos antepassados e a vontade de criar uma nação. O Brasil sempre foi um quintal de onde tudo isso se extraiu, nada se trouxe. Foi um acaso histórico o corretor de rumos: a Corte Portuguesa teve de fugir de Napoleão e se instalou na Colônia em 1808. Mas àquela altura, havia universidades em toda a América espanhola e o Brasil não podia ter ensino superior. Nem gráficas, nem imprensa. Mentalidade colonial se manteve no decorrer dos séculos. Tudo tem de vir da metrópole. Não há iniciativa, não há empreendedorismo, não há vontade de mudar. O hábito é exigir que a metrópole atenda às reinvindicações e reclamos.
O outro livro é “Por que as Nações Fracassam”, de Daron Acemoglu, do MIT – Massachusetts Institute of Technology. Para que um país se desenvolva, ele precisa de instituições de elevadíssima qualidade, assim como a educação. Precisa de cidadania, que não é apenas ter direitos, mas assumir deveres e obrigações. Precisa de empreendedorismo e a burocracia estiolante inibe quem quer investir no Brasil. Tudo é difícil, tudo é complicado, a lei parece ter sido elaborada para criar dificuldades e a presunção é de má-fé, embora o ordenamento diga exatamente o contrário. Mais do mesmo não vai resolver. O momento é de reflexão, de sensatez, de muito juízo e de solidariedade em relação aos milhões de desempregados, sem perspectiva e sem esperança. Muita angústia ainda no horizonte, antes de iniciarmos o caminho de volta, rumo ao Brasil com que sonhamos.
José Renato Nalini, secretário da Educação do Estado de São Paulo