O mercado de juros resistiu com taxas perto da estabilidade até o começo da tarde, quando então passaram a subir, renovando máximas na etapa vespertina, mas num ambiente de liquidez bastante baixa. Sem um condutor forte para os negócios e com agenda de indicadores restrita nesta segunda-feira, 10, a curva continuou ganhando inclinação a partir da piora da percepção de risco fiscal que tem puxado para cima principalmente os vencimentos mais longos, num dia também ruim hoje para o real. A ponta curta fechou com avanço marginal nas taxas, com o mercado na expectativa pela ata da reunião do Copom que sai amanhã.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou na máxima de 2,69%, de 2,652% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 5,403% para 5,48%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 6,44%, de 6,353%.
Como destacou a Tendências Consultoria, há vários fatores internos que seguem no radar como riscos aos ativos, "às vésperas do início das discussões sobre a legislação orçamentária para 2021 e em meio às dúvidas com a continuidade dos programas de auxílio-emergencial". Além de pesar contra o câmbio, o economista Silvio Campos Neto afirma que "os DIs médios e longos também são influenciados por estas questões, o que reverte a tendência de baixa registrada após o Copom", afirmou.
Desde que o Copom restringiu ainda mais as condições para voltar a cortar a Selic, no comunicado da decisão da última quarta-feira, o mercado ampliou suas preocupações com a questão fiscal por acreditar que essa é uma variável-chave a definir o futuro da política monetária. "Políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco", dizia o comunicado.
Essa mensagem, associada ao aumento das pressões para uma renovação dos programas de socorro do governo e possíveis dribles à regra do teto de gastos, tem estimulado uma realização de lucros na curva, cujos prêmios vinham bastante baixos depois da divulgação do IPCA-15 de julho. "A comunicação do BC conseguiu dizer ao mercado que ele vai olhar para o fiscal e muita coisa tem sido ventilada nesse sentido nos últimos dias. Caiu bem a probabilidade de cortar a Selic de novo", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.
Na sua avaliação, o BC poderia manter a Selic em 2% no encontro de setembro e, a depender das condições, voltar a reduzir na reunião seguinte, quando pode estar mais clara a situação dos programas de auxílio-emergencial. É consenso de que a ajuda está sendo fundamental para sustentar a recuperação da atividade, assim como também a de que no médio prazo não há condições fiscais para manter o programa.