Estadão

Juros sobem com ajustes ao comunicado do Copom e aversão ao risco no exterior

Os juros futuros fecharam o dia em alta, refletindo os ajustes ao comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) e o aumento da aversão ao risco no exterior, traduzido pelo tombo no rendimento dos Treasuries longos e queda nos preços das commodities, além de perdas nas moedas emergentes, sendo o real a exceção. No fim do dia, a curva continuava perdendo inclinação, mas no formato do chamado "bear flattening", no qual toda a curva se desloca para cima. Em meio a isso, o dia ainda foi de leilão de prefixados do Tesouro, que reduziu a oferta dos papéis longos, evitando adicionar pressão às taxas.

A taxa do contrato de DI para janeiro de 2022 encerrou em 5,59%, de 5,445% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 7,019% para 7,15%. O DI para janeiro de 2025 fechou com taxa na máxima de 8,14% (7,995% na quarta) e o janeiro de 2027 passou de 8,434% para 8,56% (máxima).

O comunicado do Copom impôs correção pesada à curva, catapultando o volume dos contratos negociados de curto prazo. Sozinho, o de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 girou mais de 1,5 milhão. A leitura do texto, considerado hawk, acelerou o ritmo das apostas de alta de 1 ponto porcentual da Selic no Copom de agosto e no de setembro, empurrando a precificação para o fim do ciclo ainda mais acima do nível considerado neutro (6,5%).

Casas como Citi e Credit Suisse a anunciaram nesta quinta revisão em suas previsões no fim de 2021, de 5,75% para 6,75% e de 6,5% para 7,25%, respectivamente. O BNP Paribas elevou a projeção para a taxa ao fim do ciclo de ajuste, de 6,5% para 7,5%.

Os diretores não somente retiraram o termo "parcial" na referência do processo de normalização monetária e indicaram novo aperto de 0,75 para a reunião seguinte, mas avisaram que, na hipótese de as expectativas para 2022 continuarem piorando, pode haver "redução mais tempestiva dos estímulos monetários", o que foi lido automaticamente com aceleração nas doses de aperto e/ou ampliação do orçamento.

Para o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, pode ter havido um certo exagero na reação do mercado nesta quinta, pois a precificação na curva "está muito forte". "Existem condicionantes para acelerar o ritmo. Não é um cenário dado ainda", afirmou Serrano, que não descarta a ideia de que o Copom aproveite a ata que sai na terça-feira para corrigir o tom.

De acordo com seus cálculos, pela precificação, a probabilidade de alta de 1 ponto para a reunião de agosto subiu de 30% na quarta para 80% nesta quinta, e para setembro já é levemente majoritária – 60% de chance de 1 ponto e 40%, de 0,75 ponto. Para o fim de 2021, a curva aponta Selic de 7,50%.

Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Renascença DTVM, também vê como excessivos os prêmios, ainda mais considerando o comportamento das commodities nos últimos dias e do câmbio nos últimos meses. "Se isso continuar, o cenário de inflação para o Brasil fica mais benigno", disse, destacando que itens como soja e milho, por exemplo, têm queda de 13% em cinco dias e que o real acumula valorização de 11% em três meses.

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