Estadão

Juros: Taxas recuam alinhadas a curvas no exterior e otimismo sobre corte da Selic

Os juros futuros fecharam em queda firme, ao longo da estrutura a termo. O exterior teve grande contribuição para o desenho da curva, uma vez reforçado o receio de recessão global em meio a dados fracos de atividade nos Estados Unidos e Europa, divulgados hoje, somados a discursos e decisões "hawkish" dos bancos centrais nesta semana.

Internamente, notícias de bastidores pós-Copom envolvendo o Planalto e a diretoria do Banco Central agitaram as mesas de renda fixa e estimularam a percepção de que o Copom deve amenizar o tom do comunicado na ata da terça-feira. Ainda, o alívio dos prêmios esteve relacionado ao otimismo sobre a tramitação da reforma tributária. No balanço da semana, a curva perdeu inclinação com as taxas longas caindo ainda mais do que as dos demais trechos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 13,005%, na mínima, de 13,069% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025, a 11,01%, de 11,13% ontem. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,395%, de 10,50% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2029 cedeu de 10,78% para 10,67%. Na semana, as curtas e intermediárias recuaram em torno de 10 pontos-base e as longas, perto de 20 pontos.

Os juros futuros acompanharam o fechamento das curvas dos Treasuries e dos bônus europeus. Os índices de gerentes de compras (PMIs, em inglês) da zona do euro, Reino Unido e Estados Unidos vieram abaixo do esperado, ampliando o pessimismo sobre a economia mundial dadas as indicações de que o Federal Reserve vai voltar a subir os juros em julho e que o ciclo de aperto monetário pelos bancos centrais na Europa vai continuar.

Do lado doméstico, o mercado voltou a se animar com a possibilidade de o Copom começar a reduzir a Selic em agosto. Na precificação da curva, não só voltou a zerar a aposta de estabilidade em agosto, retomada ontem com o comunicado do Copom, como retomou as de corte de 50 pontos, que no fim da tarde apareciam com cerca de 20% de chance nos DIs, contra 80% de probabilidade de queda de 25 pontos. Para o fim de 2023, a curva projeta Selic perto de 11,75%.

Nos bastidores, o Broadcast apurou que membros da equipe econômica ficaram altamente incomodados com o fato de o comunicado ter pressionado ontem para cima a curva de juros. A visão é de que sem essa "intervenção" a curva continuaria cedendo de forma consistente desde o início da tramitação do arcabouço fiscal no Congresso, refletindo ainda surpresas boas nos dados de inflação. De acordo com a Bloomberg, integrantes do Copom teriam se movimentado para explicar ao Planalto e ao Ministério da Fazenda que o comunicado deixou sim a porta aberta para uma eventual queda dos juros em agosto e que as decisões são técnicas. Isso posto, o mercado passou a atribuir maior probabilidade de que o colegiado use a ata do Copom, na terça-feira, para uma correção de rota em resposta não só ao governo, como também ao mercado.

"O mercado está querendo acreditar que a porta está aberta para corte da Selic em agosto, especialmente porque o CMN (Conselho Monetário Nacional) deve endossar a meta de inflação de 3%", disse o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier, que vê um certo exagero neste grau de otimismo dos agentes, destacando que a indicação da curva já é de Selic abaixo de 9,5% no fim do ciclo no último trimestre de 2024. A reunião do CMN para discutir as metas de 2024, 2025 e 2026 será na quinta-feira, quando sai também o Relatório de Inflação (RI).

Outro combustível para o alívio nos prêmios, diz o gestor, são as apostas de evolução da reforma tributária no Congresso. O relator, deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), apresentou ontem o texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC). O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem reforçado que quer votar o texto no plenário da Câmara na primeira semana de julho.

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