Estadão

Juros: Taxas recuam com exterior positivo e acomodação dos riscos fiscais

Os juros futuros conseguiram engatar a segunda sessão seguida de queda, amparada na melhora do apetite pelo risco no exterior e acomodação das preocupações com o cenário fiscal. O mercado parece querer dar mais um voto de confiança à equipe econômica na luta contra a pressão pelo aumento dos gastos, conforme leitura da fala do secretário especial de Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal. As taxas longas cederam mais do que as curtas, mas a expressiva perda de inclinação ontem e também hoje não evitou o ganho no acumulado da semana. Do mesmo modo, a melhora recente não conseguiu tirar as taxas longas da marca de dois dígitos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 6,70%, de 6,747% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 8,50% para 8,40%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa a 9,56%, de 9,726%, e a do DI para janeiro de 2027 passou de 10,174% para 10,00%. O diferencial entre os vértices janeiro de 2022 e janeiro de 2027 fechou em 330 pontos, de 343 pontos ontem e 319 pontos na última sexta-feira.

O gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cássio Andrade Xavier, afirma que a melhora de humor no cenário internacional e a sinalização de autoridade nos últimos dias, de que estão cientes do estrago que o risco fiscal tem produzido nos ativos, ajudam no processo de correção de excessos. "Depois de uma sequência de dias horrorosos, temos drive externo melhor e algumas falas no governo que mostram uma percepção bem clara dos problemas", disse.

Em webinar sobre a PEC dos Precatórios, Funchal reafirmou o compromisso com a responsabilidade fiscal e controle das contas, citando o teto de gastos como uma das bases para reduzir custos da economia. "Um pilar fundamental para crescimento é reorganização de contas", afirmou. Ele ainda sinalizou que a equipe econômica está aberta a discutir alternativas à PEC dos Precatórios, uma vez que a solução de parcelar o pagamento foi muito mal recebida no mercado. "O que propusemos foi uma alternativa, vale a discussão de outras", afirmou.

É fato que as preocupações com o cenário fiscal não se dissiparam de uma hora para outra e os próximos dias dirão se o movimento de alívio na curva é ou não para valer. A semana que vem será ainda de debates em torno dos precatórios e da reforma do Imposto de Renda, que está emperrada na Câmara. E ainda hoje o presidente Jair Bolsonaro deve decidir sobre o fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões em 2022, sob a expectativa de que o aumento seja vetado.

Lá fora, Xavier destaca a contribuição que o comportamento de queda das commodities energéticas pode dar à inflação no Brasil, que passa por uma crise hídrica e pressão nos preços de combustíveis. Hoje, o petróleo volta a operar em baixa de mais de 2% e o minério de ferro, embora tenha subido, fechou a semana com perdas na casa dos 13%.

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