O ex-presidente americano Barack Obama afirmou que os líderes mundiais são reflexos das contradições e dos contextos políticos em que estão inseridos. As declarações foram dadas em entrevista ao programa <i>Conversa com Bial</i>, da TV Globo, e ao jornal <i>O Globo</i>, e fazem parte do trabalho de divulgação do livro de memórias <i>Uma Terra Prometida</i>.
Questionado sobre ter chamado o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "o cara", Obama afirmou que não conhecia todos os casos de corrupção na época daquela frase – uma reunião do G-20 em 2009 -, mas ressaltou que o dom do petista de se conectar com o povo brasileiro e o progresso econômico que aconteceu quando tirou as pessoas da pobreza não podem ser negados.
"Uma das coisas que tento fazer no livro é descrever as complexidades de todas essas figuras. Falo do Putin, da Merkel. O que você acaba percebendo é que a maioria dos líderes é um reflexo das contradições e das tensões dos seus países", afirmou o ex-presidente americano entre 2008 e 2016.
Nove anos depois da frase, Lula seria condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, tendo ficado 580 dias preso. "Para entender qualquer um deles, é importante entender a história deles, o contexto no qual operam, as restrições políticas com as quais precisam lidar. Muitas vezes não reservamos um tempo para nos entender além das fronteiras nacionais. Esses desentendimentos podem gerar conflitos e guerras".
O ex-presidente também comentou sobre Donald Trump e Jair Bolsonaro, dizendo que ambos "parecem ter minimizado a ciência da mudança climática". Ele destacou que o Brasil é um ator central para frear os aumentos de temperatura que podem causar uma catástrofe global. "O Brasil no passado foi líder em relação a isso. Seria uma pena se deixasse de ser. Na pandemia, em relação às ações do Donald Trump e como estão lidando com ela no Brasil, existe uma diminuição da ciência".
Obama também afirmou que a democracia americana está "desgastada" e não apenas por culpa de Donald Trump, que agora questiona sem provas nem evidências a derrota nas urnas para o presidente eleito Joe Biden – até mesmo funcionários do Partido Republicano dizem que não houve fraude e contestam a versão do presidente.
Obama destacou, no entanto, que acredita na democracia americana por conta do papel dos jovens "Eles são instintivamente inclusivos, acreditam instintivamente em igualdade e justiça para as pessoas, mesmo que não sejam iguais a eles, eles reconhecem que o mercado livre precisa ter algumas regulamentações que permitam que os pobres também avancem e que garantam a sustentabilidade ambiental", afirmou. "As linhas de tendência são boas, mas o trajeto pode ser turbulento", afirmou.