Estadão

Líder conservador critica separatistas e deve ficar sem maioria na Espanha

O conservador Alberto Núñez Feijóo, líder do Partido Popular (PP) da Espanha, criticou nesta terça-feira, 26, a possibilidade de anistiar os separatistas catalães, fechando as portas de qualquer coalizão para que ele se torne premiê espanhol. "Não é aceitável. Nem do ponto de vista jurídico, nem ético", disse.

As críticas foram feitas no discurso de investidura de Feijóo, que marca o início do processo parlamentar para a formação do novo governo. Apesar de sido o partido mais votado nas eleições de julho, o PP tem dificuldade para construir uma maioria simples de 176 deputados no Parlamento.

Isto porque a Espanha saiu das urnas dividida. O bloco conservador elegeu 170 parlamentares (137 do PP e 33 do Vox, de extrema direita). A esquerda, liderada pelo atual premiê, Pedro Sánchez, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), fez 153 deputados (122 do PSOE e 31 do Sumar).

Os 27 votos restantes pertencem a partidos regionais e nacionalistas, incluindo 7 parlamentares do Junts per Catalunya, fundado por Carles Puigdemont, que vive no exílio, na Bélgica, desde o referendo fracassado pela independência da Catalunha, em 2017.

<b>Desafio</b>

Historicamente, os conservadores sempre viveram às turras com os separatistas. O então premiê Mariano Rajoy, do PP, foi quem ordenou a brutal repressão aos catalães em 2017. Portanto, a aliança era considerada desde o início como improvável. Ontem, Feijóo criticou novamente o diálogo entre o PSOE e os independentistas.

Formar um governo não será uma tarefa simples. A primeira votação será realizada hoje. Caso Feijóo não conquiste os 176 votos, uma segunda votação ocorre na sexta-feira. Sánchez vem negociando uma aliança com os partidos regionais. No entanto, se separatistas e nacionalistas optarem pela abstenção, o líder do PP pode ser eleito com qualquer maioria.

Para conquistar o apoio dos independentistas, Sánchez aceitou incorporar três novas línguas como idiomas oficiais da Espanha. Desde a semana passada, os deputados podem falar no Congresso em catalão, galego e basco. Os documentos oficiais também começaram a ser traduzidos para idiomas regionais.

Até o momento, Sanchez conquistou o apoio de dois partidos bascos, que somam 13 votos, e um da região de Barcelona, o Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), com mais 7 votos. Isso lhe garantiria 171 votos, um a mais do que o PP soma com o Vox.

Para ampliar a soma, o PSOE negocia com o Junts, de Puigdemont, que tem como principal objetivo uma anistia para os separatistas. Em 2021, líderes catalães, como Jordi Sánchez, Jordi Cuixart e Oriol Junqueras, que estavam atrás das grades, receberam o indulto do governo, em 2021. Outros, no entanto, estão no exílio ou presos.

<b>Discurso</b>

No discurso de ontem, Feijóo não pareceu disposto a negociar com os independentistas e líderes regionais, sequer para tentar convencê-los a se abster nas votações dos próximos dias. Nos primeiros cinco minutos, ele se posicionou contra a anistia. Em seguida, disse ser contra a decisão de Sánchez de aceitar a utilização de novas línguas. "Não concordo com o uso de línguas oficiais em razão da comunicação entre espanhóis", afirmou.

O líder do PP também aproveitou o tempo na tribuna para lançar propostas econômicas, em um tom mais próximo de alguém que apresenta sua candidatura. Ele defendeu a redução de impostos para empreendedores e para as classes média e baixa. Também prometeu aumentar o salário mínimo e as aposentadorias.

Na maior parte do discurso, no entanto, Feijóo atacou o governo e a possível anistia aos independentistas. A sua proposta para superar o conflito político na Catalunha é endurecer o código penal e criar o crime de "deslealdade constitucional", em substituição ao crime de sedição.

<b>Novas eleições</b>

O discurso não convenceu os opositores. "Ele não buscou votos. Parecia mais um comício de campanha eleitoral", declarou o porta-voz do Partido Nacionalista Basco (PNV), Aitor Esteban, que criticou a incoerência da fala de Feijóo. "Parecia um texto com pedaços redigidos por Jekyll e outros, por Mr. Hyde", afirmou, em referência aos personagens de O Médico e o Monstro, obra de Robert Louis Stevenson, do século 19.

A porta-voz do Sumar, Marta Lois, também criticou Feijóo. "Nada nos surpreende mais. Ele não tem credibilidade. Vende fumaça, conta muitas mentiras e tem um programa econômico em que a redução de impostos e os benefícios aos ricos são os grandes alicerces."

Caso as previsões se confirmem e o PP não consiga os votos, a Espanha terá de marcar uma nova investidura, após um diálogo do rei Felipe VI com todos os partidos. Sánchez, neste caso, poderá ser indicado. Isso deve ocorrer dentro de dois meses, contados a partir da sexta-feira. Se o atual premiê também fracassar, a Espanha terá novas eleições em janeiro de 2024. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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