A lista de signatários da Carta de Porto Alegre, movimento que pede um novo encontro nacional do PT neste ano, já conta com nomes como o senador Lindbergh Farias, que vem fazendo críticas à política econômica do governo federal, além de Tarso Genro (RS) e Olívio Dutra (RS). A senadora Fátima Bezerra (RN), uma das líderes do Movimento PT, deu seu apoio, mas não é considerada uma porta-voz da carta.
A estratégia de adesões passa também pelo contato com outros diretórios estaduais como o do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso, Rio Grande do Norte e Ceará. “Este foi só o primeiro contato. Teremos outra reunião em Brasília e também plenárias estaduais. A ideia é ter as 300 assinaturas até o final do mês”, diz o presidente do PT do Rio Grande do Sul, Ary Vanazzi.
O ex-governador Tarso Genro é mais pessimista que o presidente do partido em seu Estado. “Sou favorável à convocação de um novo congresso, ou, no mínimo, uma conferência. Acho que o movimento dificilmente será acolhido pela maioria, mas deve ser feito, pelos menos para ficarem registradas as insatisfações com os resultados do congresso, que ficaram muito aquém do que poderíamos alcançar.”
O diretório gaúcho do PT, que aprovou o documento, é um dos que fazem a oposição mais forte à atual direção nacional. Foi o PT-RS, ao lado do diretório de Santa Catarina, que pediu a saída do tesoureiro João Vaccari Neto antes mesmo de ele ser preso pela Polícia Federal.
“Ajudar o governo”
O manifesto dos gaúchos faz duras críticas à política econômica do segundo governo Dilma Rousseff e à aliança com o PMDB. O documento prega mudanças que moralizem o partido, como o fim do financiamento empresarial, para que a legenda possa, nas palavras de Vanazzi, “ajudar o governo”.
No documento, os gaúchos conclamam os correligionários a convocarem um encontro “que tire alternativas concretas à política econômica e mantenham o PT na sua trilha correta: ao lado do povo brasileiro”.
O texto pede ainda que o PT saia em “defesa intransigente de políticas e estratégias para retomada do crescimento com distribuição de renda, fazendo os ricos pagarem a conta, taxando as grandes fortunas e heranças, na defesa do emprego, do salário, dos direitos dos trabalhadores e da ampliação das políticas sociais”.
Um movimento de críticas à política econômica de Joaquim Levy foi esvaziado pela CNB na véspera do 5º Congresso sob o pretexto de que atacar o governo seria prejudicial também ao partido. A tática funcionou, as críticas a Levy tiveram pouco espaço e a Construindo um Novo Brasil (CNB) não sofreu nenhuma grande derrota nas disputas de Salvador.
“O PT deve falar para o governo qual o ajuste que ele apoia, ou seja, um ajuste que não seja pago pelos pobres e pelas classes médias, como ocorre nas soluções ortodoxas e neoliberais”, argumenta Tarso Genro.
Texto já derrotado
Contrário à movimentação, o Secretário Nacional de Organização, Florisvaldo de Souza, argumenta que a convocação de um encontro extraordinário já foi discutida e derrotada durante o 5º Congresso da sigla, no mês passado. Florisvaldo, que é da CNB, disse que a iniciativa é “uma situação parecida com a que houve na Câmara dos Deputados”. Apoiado no regimento interno, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, recolocou em votação projetos parecidos com textos derrotados em sessões anteriores. Na época, o PT chamou o movimento de “golpe”.
“Movimento para discutir as pessoas têm direito a fazer. O que eu acho um equívoco político é retomar uma tese que já foi derrotada”, argumenta Florisvaldo. “No PT nós não temos história de desrespeito à deliberação de instâncias superiores”, diz Florisvaldo.