O presidente francês, Emmanuel Macron, está sob fogo cerrado de ativistas, especialistas e opositores por sugerir a suspensão das redes sociais em caso de protestos. Nesta quarta-feira, 5, diante das críticas, o governo francês modulou o discurso e defendeu a derrubada de algumas funções das plataformas, sem aplicar um apagão geral.
Na terça-feira, 4, durante reunião com prefeitos de 200 cidades atingidas pelos distúrbios da semana passada, Macron falou sobre a possibilidade de "regulamentar ou cortar" as redes sociais nos casos mais extremos. "Devemos refletir sobre o uso dessas redes entre os mais novos, nas famílias, na escola, sobre as proibições que devemos adotar", disse o presidente.
Os bloqueios temporários das redes sociais, parciais ou totais, não são explicitamente previstos pela lei francesa. A Constituição e a lei europeia protegem a liberdade de expressão e o Judiciário já emitiu várias sentenças determinando que a imposição de limites a um direito fundamental em nome da ordem pública deve ser proporcional e justificada.
<b>Críticas</b>
Opositores de direita e de esquerda criticaram a ideia, apontando para o fato de que derrubar as redes sociais colocaria a França ao lado de países autoritários. "Cortar o acesso às redes sociais? Como China, Irã, Coreia do Norte?", ironizou o deputado conservador Olivier Marleix.
"Ok, Kim Jong-un", afirmou a parlamentar esquerdista Mathilde Panot. "O país dos direitos humanos e dos cidadãos não pode se alinhar com as grandes democracias chinesa, russa e iraniana", disse o secretário-geral do Partido Socialista, Olivier Faure.
Ontem, governo recuou e disse que Macron "em nenhum momento" considerou cortar completamente as redes sociais, mas apenas sugeriu suspendê-las "de forma temporária e pontual". O porta-voz de Macron, Olivier Véran, indicou que seria a suspensão de algumas funções, como a geolocalização. "Esta função permite que os jovens se reúnam em um determinado local, mostrando cenas de como se faz uma fogueira", disse. "Um jovem deve saber que não pode sentar atrás de uma tela e escrever, organizar ou fazer o que quiser. Não existe anonimato em termos de ofensas."
<b>Reação</b>
Nos últimos dias, Macron tem buscado uma resposta à onda de protestos contra a violência policial, que começou no dia 27 de junho, após a morte de Nahel Merzouk, um jovem de 17 anos, baleado à queima-roupa pela polícia durante uma blitz de trânsito em Nanterre, no subúrbio de Paris.
Desde então, as noites nas grandes cidades francesas registram carros, ônibus e prédios públicos incendiados, policiais feridos e centenas de jovens detidos. Diante do aumento da violência, Macron culpou os videogames e as mídias sociais, citando diretamente o TikTok e o Snapchat como exemplos de plataformas usadas para organizar reuniões violentas e inspirar comportamentos destrutivos.
"Entre os mais jovens, isso leva a uma espécie de afastamento da realidade e, às vezes, temos a impressão de que alguns deles estão vivendo nas ruas o que os videogames que lhes causaram de lavagem cerebral", disse Macron.
Durante os protestos, muitas imagens e vídeos falsos alimentaram a violência. Um deles, postado no dia 2, mostrava um grupo de jovens dirigindo uma van da polícia com uma pessoa segurando uma arma para fora da janela. O vídeo, que teve mais de 1,7 milhão de visualizações no Twitter, era falso – se tratava do trecho de Athena, um filme francês de 2022.
<b>Ataques</b>
No fim de semana, o gabinete seguiu o discurso do presidente francês e criticou os efeitos das mídias sociais no encorajamento de tumultos e saques. Os ministros do Interior, Gerald Darmanin, e da Transição Digital e Telecomunicações, Jean-Noël Barrot, reuniram-se com representantes de TikTok, Snapchat, Twitter e Meta.
Durante o encontro, eles pediram que as plataformas retirassem conteúdo violento e ajudassem as autoridades a identificar aqueles que usam suas plataformas para convocar distúrbios. O TikTok, da chinesa ByteDance, confirmou a reunião, mas não comentou o pedido do governo.
A empresa chinesa e seu aplicativo estão sob escrutínio global em razão dos riscos de segurança e do impacto de seus algoritmos, com alguns governos ameaçando banir o TikTok ou forçá-lo a se separar de sua empresa controladora. O Senado da França deve entregar hoje os resultados de uma série de audiências sobre preocupações com o aplicativo. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>