Maior dos fake news é o gabinete do ódio, diz Bolsonaro após operação da PF

Quatro dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) fechar o cerco ao "gabinete do ódio" e apreender documentos, computadores e celulares em endereços de 17 pessoas, o presidente Jair Bolsonaro escreveu neste domingo (31) que a existência de um grupo de aliados que participam de uma rede de ataques nas redes sociais "é o maior dos fake news inventado pela imprensa".

Como revelou o Estadão em setembro do ano passado, o "gabinete do ódio" está instalado dentro da estrutura do gabinete do presidente da República. A atuação do grupo é investigada pelo inquérito do STF que apura ameaças, ofensas e a disseminação de fake news contra integrantes da Corte e seus familiares.

Ao determinar a operação de busca e apreensão, que mirou empresários e blogueiros bolsonaristas, o ministro Alexandre de Moraes definiu o "gabinete do ódio" como uma "associação criminosa".

"As provas colhidas e os laudos periciais apresentados nestes autos apontam para a real possibilidade de existência de uma associação criminosa, denominada nos depoimentos dos parlamentares como gabinete do ódio, dedicada à disseminação de notícias falsas, ataques ofensivos a diversas pessoas, às autoridades e às Instituições, dentre elas o Supremo Tribunal Federal, com flagrante conteúdo de ódio, subversão da ordem e incentivo à quebra da normalidade institucional e democrática", escreveu Moraes.

Conforme informou o <b>Estadão</b> no último sábado, o avanço da investigação deve chegar ao núcleo próximo de Bolsonaro. Comandante do "gabinete do ódio", o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) não foi alvo da operação da Polícia Federal da semana passada. A expectativa de integrantes do STF é a de que, se em um primeiro momento Moraes optou por focar nos tentáculos operacionais do grupo, o filho do presidente da República deve ser atingido já na etapa final do inquérito, com o aprofundamento das investigações. O cálculo político que estaria sendo feito é o de que o envolvimento de nomes mais graúdos nessa etapa poderia comprometer os trabalhos.

<b>Financiamento</b>

O "gabinete do ódio" também entrou na mira do Tribunal de Contas da União (TCU). O subprocurador Lucas Furtado ingressou com uma representação para que a Corte de Contas analise se a ação do grupo de servidores é financiada por recursos públicos. Na representação, o procurador classificou o "gabinete do ódio" como uma Parceria Público-Privada (PPP), que funciona com o aporte de recursos públicos e de empresas.

"Até o momento a Folha, Globo, Estadão… não apontaram uma só fake news produzida pelo tal gabinete. Por outro lado, essa mesma mídia podre produz, diariamente, dezenas de fake news contra o Presidente", escreveu Bolsonaro.

Neste domingo, o <b>Estadão</b> informou que as células mais avançadas desse grupo ideológico mantêm a militância digital inflamada e atuam no Ceará, no Paraná, em Minas Gerais e em São Paulo. Numa espécie de franquia, cada núcleo regional conta com assessores lotados em gabinetes da Câmara dos Deputados e em Assembleias Legislativas para movimentar páginas de disseminação de fake news e linchamentos virtuais de adversários do governo.

Um dos núcleos mais estruturados, o "Endireita Fortaleza" tem amigos até na assessoria especial do presidente Jair Bolsonaro, no terceiro andar do Planalto. A célula não foi alvo da operação da Polícia Federal na quarta-feira passada, mas entrou na mira das investigações pelo grau de engajamento nas redes sociais e por ligações com figuras influentes do governo.

<b>TSE</b>

O presidente também comentou as ações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que investigam a sua campanha eleitoral de 2018. A possibilidade de essas ações serem "turbinadas" com o inquérito das fake news do Supremo já acendeu o sinal de alerta do Palácio do Planalto. O PT pediu ao relator dos processos, ministro Og Fernandes, o compartilhamento das provas do Supremo com o TSE. Og vai ouvir Bolsonaro e o Ministério Público Eleitoral antes de decidir.

"Agora investem no julgamento do TSE sobre disparos em massa de mensagens por ocasião da campanha. Falam em disparos mas não apontam uma só mensagens disparada contra quem quer que seja. Será que, se eu chamar essa imprensa e negociar com ela alguns bilhões de reais em propaganda, tudo isso se acaba?", questionou.

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