Mais três carros foram incendiados no pátio do 54º Distrito Policial, em Cidade Tiradentes, no extremo da zona leste da capital paulista, na madrugada desta quarta-feira, 24. Em três dias, esse é o segundo ataque do tipo na mesma delegacia. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP/SP) informou que a polícia ainda não sabe se há relação entre as duas ocorrências.
No último domingo, 21, a morte de dois jovens na saída de um baile funk, em Cidade Tiradentes, desencadeou uma série de protestos dos moradores da região. À tarde, três ônibus foram incendiados e outro foi depredado na Avenida dos Metalúrgicos. Depois, cerca de 70 pessoas tentaram invadir o 54º DP e entraram em confronto com a Polícia Civil.
O ponto de partida dos protestos foi o assassinato de Juanriber Santiago dos Santos, de 18 anos, e de um adolescente de 15 anos enquanto saíam de uma festa na Rua Edson Danillo Dotto, também em Cidade Tiradentes. A dupla tentava voltar para casa em uma moto roubada, uma Suzuki JTA, quando foi surpreendida por atiradores desconhecidos.
Seis disparos atingiram Santos na cabeça e no abdome. Outros três tiros acertaram o adolescente, que estava na garupa, nas regiões do tórax, do ombro e do rosto. À Polícia Civil um familiar teria confessado que o adolescente morto “tinha más companhias e influência do crime”.
Segundo testemunhas, três pessoas se aproximaram da motocicleta, que estava parada no trânsito. Sem qualquer aviso, dois deles teriam sacado as armas, atirado contra os jovens e fugido a pé. Os dois chegaram a ser levados para o Hospital Cidade Tiradentes, mas não resistiram aos ferimentos. Outra vítima ainda foi atingida no tórax, mas não corre risco de morte.
Segundo a mãe de Santos, a dona de casa Ângela Maria Gouveia, de 54 anos, seu filho havia sido ameaçado de morte por policiais militares na quinta-feira, 18. “A Polícia enquadrou ele e mais uns dois meninos no meio da rua”, afirmou.
Ângela relatou que, na ocasião, precisou ir até a Praça do 65, em Cidade Tiradentes, para entregar os documentos dos filhos aos policiais. Ao chegar, um dos agentes teria perguntado a ela onde estava a moto roubada.
“Eu não sei de moto nenhuma”, teria respondido Ângela. “Já que a senhora não quer falar, daqui a uns dias vão chamar a senhora para reconhecer o corpo do seu filho em Itaquera”, teria ameaçado o policial.
De acordo com o delegado Benedito Silveira, titular do 54º DP e responsável pelas investigações, a autoria dos disparos ainda é desconhecida. “Todas as hipóteses estão sendo investigadas da mesma forma”, afirmou. Uma delas é que policiais tenham mesmo disparado contra os jovens. A outra, segundo o delegado, é que os assassinatos tenham sido motivados por vingança de um grupo de criminosos, que supostamente teve a moto roubada no dia 13 de setembro, em Vila Matilde, também na zona leste.
“Você acha que se fosse briga de bandido a gente ia tocar fogo em ônibus?”, questionou uma moradora da região, que não quis se identificar.
Por volta das 17h30, cerca de 20 pessoas apedrejaram um coletivo e incendiaram outros três que estavam parados no Terminal de Ônibus Cidade Tiradentes, na Avenida dos Metalúrgicos. Um dos pontos também foi destruído pelo fogo. Galões de gasolina foram usados para provocar o incêndio. Segundo a Polícia Civil, o grupo protestava contra a morte dos jovens.
No final da noite, outro grupo com cerca de 70 pessoas tentou invadir o 54º DP e entrou em confronto com policiais civis do Grupo de Operações Especiais (GOE), acionados para impedir a invasão. O caso aconteceu por volta das 23h. Ao notarem a chegada dos policiais, manifestantes dispararam coquetéis molotov, rojões e arremessaram pedras e garrafas contra eles, além de armar barricadas ateando fogo em pneus, caixas de papelão e pedaços de madeira.
Os policiais revidaram com munições antimotim para dispersar o grupo. Três pessoas foram detidas após a confusão e, depois, liberadas. Além disso, dois menores de 15 anos foram apreendidos e levados à Fundação Casa. Uma viatura teve o banco traseiro queimado e três veículos foram incendiados.
Os policiais apreenderam uma caixa de rojão que continha dois cartuchos já usados. De acordo com o boletim de ocorrência, na caixa havia inscrição da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).