O número de mortos no Iraque durante os protestos no país por causa do anúncio da aposentadoria do poderoso clérigo muçulmano xiita Moqtada al-Sadr aumentou para 22 nesta terça-feira, 30, com mais de 250 feridos.
Moqtada al-Sadr e seu partido foram os mais votados nas últimas eleições no Iraque. Sem conseguir formar um governo por causa de um impasse político que já dura dez meses e deu ao Iraque seu período mais longo sem um governo estabelecido, ele anunciou sua aposentadoria definitiva da política e o fechamento dos escritórios de seu partido na segunda-feira, 29.
A reação dos apoiadores do religioso foi imediata: dezenas de pessoas invadiram a sede do governo e mergulharam na piscina. O Palácio Republicano fica na Zona Verde de Bagdá, região de ministérios e missões estrangeiras que já vinha sendo ocupada há semanas por grupos de manifestantes pró-Sadr. O número de mortos nos confrontos que iniciaram na segunda-feira, 29, no Iraque, aumentaram nesta terça-feira.
As manifestações violentas ocorreram durante toda a noite. Milhares de seguidores de al-Sadr tomaram as ruas e invadiram o Palácio Republicano. Os manifestantes usaram cordas para derrubar barreiras de concreto que protegiam os portões, ocuparam as luxuosas salas do palácio e gritaram palavras de ordem em apoio ao clérigo.
Do lado de fora da Zona Verde, a confusão se agravou: jovens leais a Sadr entraram em conflito com grupos xiitas ligados ao Irã e jogaram pedras uns nos outros. Também foram ouvidos tiros e disparos de artilharia de longo alcance, segundo relato de testemunhas a agências de notícias internacionais.
Diante desse cenário, Sadr anunciou que faria uma greve de fome até a violência cessar. Seu gabinete, contudo, não se pronunciou sobre o assunto.
O governo dos Estados Unidos descreveu o cenário como inquietante e pediu calma e diálogo. A missão da ONU no Iraque, sediada na Zona Verde, pediu aos manifestantes moderação máxima.
Após a invasão do prédio, Mustafa al-Kadhimi, o primeiro-ministro interino aliado de Sadr, suspendeu as reuniões do governo. O Exército decretou um toque de recolher no país todo a partir do fim do dia e pediu que os manifestantes deixem a Zona Verde para evitar mais confrontos.
Sadr é uma das únicas pessoas no Iraque – além do aiatolá Ali al-Sistani, grande autoridade religiosa xiita – capaz de mobilizar grandes massas. Tem milhões de seguidores, uma milícia e um império financeiro. Ele não detalhou o fechamento de seus escritórios, mas disse que as instituições culturais e religiosas permanecerão abertas.
Sadr não consegue montar um governo desde outubro do ano passado, quando seu partido venceu as eleições sem obter maioria absoluta no Parlamento. Em junho, ele retirou todos os seus representantes do Parlamento após não conseguir excluir seus rivais – apoiados por Teerã – das negociações. (Com agências internacionais).