Uma carreata pró-impeachment do presidente Jair Bolsonaro, organizada por partidos da oposição, chegou ao centro da capital federal na manhã deste sábado, 23. Os pedidos de vacina e de afastamento do chefe do Executivo foram a tônica do ato em Brasília, marcado por críticas aos atrasos na imunização da população contra a covid-19.
Nas redes sociais, políticos da oposição divulgaram o evento. De acordo com a assessoria da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), cerca de 500 veículos participaram do protesto. O Batalhão de Trânsito da PM fez o acompanhamento do ato e nenhuma ocorrência havia sido registrada até a publicação deste texto.
O comboio de carros trazia faixas da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e de partidos como Rede, PT, PSOL e PSTU. Ao som de buzinas, manifestantes pediram o fim da gestão do presidente da República. "Acabou, acabou! Vai embora (Bolsonaro), leva toda a sua gangue", gritou uma manifestante. A fila de carros saiu da Torre de TV de Brasília e passou pela Esplanada dos Ministérios e por vias secundárias que cruzam a capital de norte a sul.
Na avaliação do porta-voz do partido Rede Sustentabilidade no DF, Ádila Lopes, a mobilização deste sábado foi um "esquenta" para o ato previsto para o dia 31 de janeiro – na véspera das eleições para a presidência da Câmara e do Senado.
Para Lopes, o apoio de movimentos de direita ao impeachment de Bolsonaro mostra uma oportunidade de convergência em prol da democracia. "Quando você chega a situações delicadas como a que a gente tem, essas movimentações tendem a ir caminhando para um funil, de modo que em algum momento se encontrem", disse.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, que também marcou presença na carreata, convocou a população a manter as cobranças pela saída do presidente da República em manifestações, panelaços e pressão nas redes sociais. "Para aqueles que dizem que colocar o impeachment agora é gerar instabilidade no Brasil, nós temos que responder que a instabilidade já está acontecendo e a crise está grave. E a instabilidade tem nome: Jair Bolsonaro", declarou.
"Ao lado da luta da vacina para todos, pelo fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde), ao lado da luta pela renda emergencial para que nosso povo não passe fome, a principal luta política é tirar Bolsonaro. Por isso é muito importante as manifestações que estamos fazendo", acrescentou.
Para este fim de semana, movimentos de esquerda, de direita e representantes da sociedade civil convocaram atos em favor do impeachment em ao menos sete capitais e no Distrito Federal. Conforme o <b>Estadão </b>mostrou, atores políticos que estiveram em lados opostos durante o impeachment da presidente Dilma Rousseff agora pedem juntos a saída de Bolsonaro. É o caso da Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, que apoiaram a petista em 2016, e o MBL e o Vem Pra Rua, que defenderam a queda da petista.
Entretanto, os protestos organizados por cada grupo estão sendo marcados para dias separados. O Acredito, movimento de renovação política, e os grupos de esquerda organizaram seus protestos neste sábado, enquanto os grupos de direita marcaram seus atos para domingo, 24.
<b>Popularidade
</b>
Influenciada pela situação da pandemia da covid-19 no País, marcada pela crise no fornecimento de oxigênio na rede de saúde de Manaus (AM), a popularidade do presidente já se mostra abalada. Pesquisa Datafolha divulgada ontem indicou aumento do número de insatisfeitos com Bolsonaro: 40% da população avalia sua atuação como ruim ou péssima, comparado com 32% que assim o consideravam na edição anterior da sondagem, no começo de dezembro.
O número de participantes que avaliam o governo como ótimo ou bom teve leve queda também passando para 31% ante 37% em dezembro. A taxa de avaliação regular ficou em 26%, comparada com 29% anteriormente.
No entanto, mesmo com o desgaste da imagem do governo Bolsonaro, a taxa de brasileiros contrários ao impeachment cresceu, indo de 50% em dezembro para 53% agora. Os que defendem a abertura de um processo contra o presidente por crime de responsabilidade são 42%, enquanto no mês passado, eram 46%. Outros 4% não responderam.
Na Câmara dos Deputados, são mais de 50 pedidos de impeachment protocolados contra Bolsonaro. Nos bastidores, foram reforçadas as conversas sobre instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar as ações e omissões do governo durante a crise sanitária do novo coronavírus – possibilidade já levantada inclusive pelo atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Nas mídias sociais, levantamento feito na última semana pelo banco Modalmais e a consultoria AP Exata mostrou que a popularidade do presidente enfrenta desgaste no ambiente digital. Levantamento feito com base em perfis públicos nas redes sociais mostrou que 37,2% das menções ao presidente foram classificadas como ruins ou péssimas. O percentual de menções avaliadas como positivas (boas ou ótimas) foi de 34,8%.
Sobre pedidos de impeachment, as principais hashtags encontradas em posts que mencionaram o presidente ao longo da semana citaram o processo, houve proporção de 58% a favor e 42% contra. Os destaques foram #ForaBolsonaro e #QueremosBolsonaroAte2026.