Estadão

Marieta Severo e Andréa Beltrão reabrem seu Teatro Poeira, no Rio

Um ato de resistência artística está para completar 17 anos – foi em junho de 2005 que as atrizes Andréa Beltrão e Marieta Severo inauguraram o Teatro Poeira, no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro. Não se tratava de um palco convencional, mas de um espaço que privilegiaria a liberdade para a criação. "Estávamos cansadas de teatros comerciais, que só se interessavam por peças de sucesso", conta Marieta que, como Andréa, investiu as economias guardadas ao longo de uma carreira para construir um lugar que se tornasse referência de qualidade.

É o que poderá ser comprovado na exposição Antes e Depois do Espetáculo, a ser inaugurada no dia 18, e que vai ocupar todos os espaços (incluindo camarins, coxias, plateia) do Poeira e da sala menor, Poeirinha. Com a curadoria da diretora Bia Lessa, a mostra não pretende relembrar apenas as 166 peças já encenadas lá. "Queremos homenagear também as mais de 300 mil pessoas que assistiram aos espetáculos, retribuindo o voto de confiança", completa Andréa.

Para a reabertura, além da mostra, as amigas planejam também retornar ao palco com uma peça tão impactante como a que inaugurou o espaço, Sonata de Outono, instigante drama de Ingmar Bergman. "Queremos provocar", diverte-se Andréa (veja abaixo). Foi o que aconteceu no Poeira ao longo de sua história – ali foram encenados espetáculos que incentivaram a plateia a questionar seus próprios conceitos. Foi o caso, por exemplo, de As Centenárias, divertido retrato de suas carpideiras; ou de Incêndios, peça do libanês Wajdi Mouawad sobre a dolorida descoberta da verdade.

FORMAÇÃO. "O que nos enche de orgulho é ouvir jovens dizendo que formaram suas ideias a partir dos trabalhos apresentados no Poeira", conta Marieta, lembrando que, além das encenações, o espaço foi ocupado também por dezenas de oficinas, workshops, seminários e cursos. Este, aliás, era um dos pilares do nascimento do Poeira, fruto do diretor Aderbal Freire-Filho, que esteve junto das atrizes desde a fundação do espaço e está temporariamente afastado para se recuperar de um problema de saúde. "O teatro é o Aderbal", comenta Andréa. "Ele está em cada escolha feita, em cada comemoração, nos momentos felizes ou difíceis."

CONCEITO. O título da exposição, aliás, foi criado por Aderbal, que iniciou seu planejamento e criou seu conceito – a mostra deveria abrir em 2020, mas a pandemia adiou a estreia. Agora, com forças recuperadas, a homenagem já começa na fachada do pequeno sobrado, que será ocupada por várias fotos, o que expandirá os limites do espaço, até à rua.

"O teatro é o agente transformador da sociedade. Neste momento em que precisamos celebrar a liberdade e a vida, não caberia fazer apenas dentro do teatro, mas também dialogar com a rua e a própria vida", analisa Bia Lessa.

Curiosamente, Marieta e Andréa não se veem como empresárias apenas por administrarem um espaço próprio. "Não vemos o Poeira como uma sociedade, mas um local onde conseguimos viabilizar nossos projetos", explica Marieta, lembrando que ela e Andréia participaram de todas as etapas da construção do teatro. "Eu estava cansada de me apresentar em teatros grandes, com microfone, distante da plateia. Tinha a sensação de que precisava recuperar alguma coisa."

Assim, a dupla, que não usou leis de incentivo, orientou a construção de um palco flexível, com pé direito alto e próximo do público, além de camarins com isolamento. "Tem piso de borracha, depois que Marieta deixou cair um objeto e percebeu que o som ecoava no palco", diverte-se Andréa. As informações são do jornal <b>O Estado de S. Paulo.</b>

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