Polícia

Material apreendido na Vila Barros não era Urânio, aponta análise técnica que afasta riscos à saúde

Foto: E.R. Paiva/IPEN-CNEN

O material apreendido pela Polícia Federal, no último dia 8, na rua Eugênio Diamante, Vila Barros, trata-se de uma rocha de ocorrência na natureza, não é Urânio e não há qualquer ameaça à saúde, segundo análises preliminares do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN-CNEN/SP). Os valores de taxa de dose medidos são muito baixos e, do ponto de vista de Radioproteção, o risco é considerado desprezível, segundo informou Demerval Leônidas Rodrigues, coordenador de Segurança Nuclear, Radiológica e Física do IPEN/CNEN.

“Todo material radioativo pertence à Classe 7, na classificação de produtos químicos perigosos, que vai de 1 a 9. Contudo, a periculosidade dos materiais radioativos depende de vários fatores, o principal é a atividade radioativa em Bq “Becquerel” do material (antiga unidade Ci “Curie”). Pelo laudo apreendido junto ao material pela Polícia, esse material teria o equivalente a 87g de Urânio, com taxa de dose muito baixa, o que não apresenta risco à saúde”, afirmou.

Rodrigues se refere à classificação da Organização das Nações Unidas (ONU), que separa os produtos químicos em nove classes: (1) explosivos; (2) gases; (3) líquidos inflamáveis; (4) sólidos inflamáveis; (5) substâncias oxidantes e peróxidos orgânicos; (6) substâncias tóxicas e substâncias infectantes; (7) material radioativo; (8) substâncias corrosivas; E (9) substâncias perigosas diversas.

No caso dos materiais radioativos, de acordo com Rodrigues, os efeitos nocivos que podem causar danos à saúde humana decorrem da dose de radiação recebida por um indivíduo e essa, por sua vez, depende diretamente dos valores das taxas de exposição, da distância do indivíduo em relação ao material e do tempo de permanência próximo. Além disso, a dose de radiação recebida por um indivíduo também pode ser resultante da contaminação interna ou externa por materiais radioativos.

Essa rocha apreendida, em particular, apresentou valores de taxa de dose muito baixos, similares àqueles encontrados no meio ambiente, e o material não passou por nenhum processo de beneficiamento, ou seja, é apenas uma pedra com suspeitas de conter Urânio e Tório. Portanto, de acordo com Rodrigues, não foi necessária implementar qualquer medida de proteção, como, por exemplo, isolamento de área e do próprio material.

Rodrigues também afirmou que não existem quaisquer riscos resultantes ou associados a este material a moradores que vivem próximos à residência onde o material foi apreendido. Para uma conclusão mais segura, estão sendo empregadas diferentes técnicas de análise, em diferentes laboratórios do IPEN/CNEN.

O Laboratório de Cristalografia Aplicada à Ciência de Materiais, do Centro de Ciência e Tecnologia dos Materiais (CCTM), está empregando a técnica fluorescência de raios X, sob a responsabilidade do físico Luis Gallego Martinez e do engenheiro Jesualdo Luiz Rossi. Segundo as análises feitas, a rocha contém compostos de silício, alumínio, potássio, cálcio e ferro, comuns em rochas e solos.

Também seguiu amostra para o Laboratório de Análise Radiométrica, do Centro de Metrologia das Radiações do IPEN/CNEN, com a técnica de Espectrometria Gama de Alta Resolução, sob a responsabilidade de Marcelo Francis Maduar. Após essas análises, o IPEN/CNEN vai elaborar o relatório conclusivo.

O caso

Dois homens de 40 e 34 anos foram presos em flagrante no último dia 8 por policiais do 03º DP de Guarulhos, Grande São Paulo, com um quilo de pedras identificadas como o material radioativo Urânio bruto, às 14h30, na rua Eugênio Diamante, Vila Barros.

Os policiais receberam informação de que os indiciados estavam vendendo material radioativo no local. Eles se passaram por compradores e receberam as pedras como amostra de uma quantidade maior, de duas toneladas. Na casa havia diversas pedras aparentando o material urânio em estado bruto, com documento sobre análise de fluorescência de Raios-X. Presos em flagrante por Porte de material nuclear e por Crime contra a ordem econômica, os indiciados não informaram a procedência do material.

Como a competência para a devida instrução criminal é da União, o caso será encaminhado à Justiça Federal. Técnicos do IPEN (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), levaram as pedras apreendidas e lacradas para análise.

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