Em seu primeiro mês à frente da condução da política econômica – na pior crise do País em décadas -, se há algo que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, conseguiu explorar muito bem foi o seu capital político.
Mesmo sem ainda encaminhar um projeto sequer para resolver a situação falimentar das finanças do governo, Meirelles conseguiu nesses 30 dias praticamente tourear no “gogó” a ansiedade por medidas urgentes cobradas já nas primeiras horas da manhã seguinte à sua posse.
E, ao mesmo tempo, emplacou, sem arranhar a sua imagem, uma meta fiscal com um déficit de R$ 170,5 bilhões, que abriu espaço para despesas maiores em 2016, na contramão do discurso fiscalista prometido.
Os investidores confiaram desconfiando. Em compasso de espera, não colocaram ainda dinheiro no Brasil. A Bolsa de Valores não se movimentou e o dólar mudou mais por causa do efeito da atuação do banco central dos Estados Unidos.
Agora, o jogo para Meirelles começa de fato. Com o envio nesta semana ao Congresso Nacional do texto da Proposta de Emenda Constitucional (PEC), que cria um teto para limitar o crescimento das despesas à inflação do ano anterior, o ministro e sua equipe – apontada pelo mercado como o “time dos sonhos” – colocam as suas fichas na mesa.
A aposta é alta. Se conseguir apoio da base aliada e enfrentar as resistências para mudar as amarras do Orçamento, a aprovação da PEC será vista como um “game changer” (mudança de jogo) nas contas públicas do Brasil, na avaliação de um executivo de um banco estrangeiro, atraindo a atenção de investidores externos, provavelmente com repercussão na avaliação das agências de classificação de risco.
Caso o presidente em exercício Michel Temer consiga aprovar a PEC, na sequência, os dólares devem voltar para o País, com reflexo direto na cotação da moeda americana. Essa é a expectativa da equipe econômica e também de analistas do mercado financeiro.
Meirelles já avisou que não vai tomar a frente das negociações políticas do Congresso para aprovação da PEC, como fez o ex-ministro Joaquim Levy, de forma isolada e errática. “Essa não é a função do Ministério da Fazenda”, diz ele a interlocutores. O seu estilo de decisão é definido por auxiliares como o de um negociador que reúne primeiro as “divergências” para depois buscar a convergência, com foco em resultados em sequência.
Não há tampouco a correria imposta por seu antecessor no cargo, Nelson Barbosa, que teve pouco tempo para mostrar suas propostas num governo encurralado pelo processo de impeachment. “A velocidade do ministro é outra”, resume um dos seus auxiliares mais próximos, que vê na descentralização uma marca da sua atuação.
O assessor conta que, em meio à pressão por medidas nos primeiros 30 dias de governo, sua resposta foi sempre a mesma: “E ficar ansioso resolve?” O sangue-frio nos primeiros dias ajudou.
Na área técnica da Fazenda, que teve de lidar com três ministros em menos de um ano, Meirelles ainda está sendo testado. Não houve grandes surpresas, no entanto, quando o ministro não titubeou em substituir, menos de um mês depois de assumir o cargo, o seu secretário executivo Tarcísio Godoy por diferenças de temperamento. É o “jeitão” Meirelles, afirmam. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.