Em “Quase sem querer”, minha preferida entre tantas preferidas músicas de Renato Russo, o mestre – no contexto da canção – insere essa passagem que, vira e mexe, recorro mesmo que apenas nos meus pensamentos, quando lido com uma das coisas que mais me irritam: a mentira. Nesse sentido, “mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira” soa como um mantra, uma das maiores verdades que já ouvi. Os enganadores, que julgam se dar bem com pequenas ou grandes inverdades, talvez abominem essa frase. Afinal, acreditam ser felizes, independente de pregarem a verdade ou não. Pode ser. Mas ainda prefiro acreditar que “mentira tem perna curta”. Ainda nessa linha de citações, também impossível deixar de lembrar de Abraham Lincoln, presidente norte-americano entre 1861 até 1865, quando foi assassinado. “Você pode enganar pessoas todo o tempo. Você pode também enganar todas as pessoas por algum tempo. Mas você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo”. Mas por que ficar falando de mentiras? Por que esta sexta-feira foi 1º de abril, instituído como o dia da mentira. Coincidentemente na véspera, eu chamava a atenção de meu filho, que – pela própria idade (9 anos) e convivência com amiguinhos – ensaiava algumas mentirinhas, quase que inocentes. Eu lhe falava, com toda a paciência que um pai deve ter (aprendi isso com o meu) que ele deve confiar em nós. Que essas coisas, aparentemente sem importância, são importantes sim. Que ele não precisa tentar se esquivar de pequenos erros que eventualmente comete. Que isso faz parte da vida. Que é melhor, sempre, custe o que custar, seguir o caminho da verdade. Bastante desconfiado, com medo de sofrer represálias, tentou contrapor. Nestes momentos, joga no ar a velha máxima, em um tom quase choroso: “mas você ia brigar comigo”. Não importa. Melhor eu brigar com você hoje do que você crescer envolto em mentiras. E, mais uma vez, Renato Russo volta à minha mente. Em outra preciosidade de sua obra, ele arremata: “um dia pretendo tentar descobrir porque é mais forte quem sabe mentir. Não quero lembrar que eu minto também…” É, eu sei. Ernesto Zanon Jornalista, diretor de Redação do Grupo Mídia Guarulhos, escreve neste espaço na edição de sábado e domingo No Twitter: @ZanonJr