Perto de bater mais um recorde na Fórmula 1, a Mercedes está mais dominante do que nunca na categoria. Em cinco etapas disputadas no ano, foram quatro pole positions e cinco vitórias, todas com a conquista do primeiro e segundo lugares. Se repetir a dose no tradicional GP de Mônaco, no próximo domingo, alcançará a marca inédita de seis dobradinhas seguidas.
Para anotar mais este recorde, as “Flechas de Prata”, como seus carros foram batizados, contam com o pacote vitorioso que reina na Fórmula 1 desde 2014: a eficiência na união entre motor e chassi, a poderosa unidade de potência, principalmente nos sistemas de recuperação de energia, o alto investimento, o trabalho de longo prazo e o talento de Lewis Hamilton.
“Nesta temporada, temos um carro fantástico. É o melhor que produzimos até agora”, comentou Hamilton, que faturou quatro dos seus cinco títulos mundiais pela equipe. A trajetória vitoriosa conta com o apoio dos altos investimentos da equipe – o orçamento desta temporada é de cerca de R$ 1,5 bilhão – e o trabalho de longo prazo de engenheiros e projetistas.
“O modelo deste ano começou a ser projetado no fim de 2017. Foi quando fizemos as primeiras reuniões sobre o chassi e sobre como seria a unidade de potência”, explica James Allison, diretor técnico da Mercedes. “Definimos nossos planos para o desenvolvimento dos nossos recursos para 2018 e já estabelecemos o número de profissionais que iriam atuar no carro criado para 2019.”
O trabalho da equipe, contudo, é de um prazo ainda maior. Tudo começou em 2010, quando os alemães retornaram à Formula 1. Na ocasião, a Mercedes comprou a Brawn GP, que já contava com a liderança técnica de Ross Brawn, um dos cérebros da Ferrari nos anos dourados em que Michael Schumacher se tornou o maior campeão da história da F-1. Não por acaso a Mercedes fez o alemão abandonar a aposentadoria para dar uma assessoria de luxo, e eficiência, nas pistas, ao assumir o cargo de piloto da equipe.
“Eles têm o mesmo time há anos. Toda temporada tem um projeto diferente, claro, mas a equipe tem uma receita básica e uma metodologia que é superior às demais”, diz o ex-piloto de Fórmula 1 Tarso Marques.
Nos primeiros anos após a volta à F-1, a Mercedes não teve sucesso nas pistas. Mas caprichou na fábrica e desenvolveu a tecnologia para a forte mudança no regulamento de 2014, que estabeleceu o motor híbrido, movido a combustão e parte elétrica. O trabalho liderado pelo engenheiro britânico Andy Cowell mostrou uma precisão incrível na união entre a unidade de potência e a parte aerodinâmica. O carro passou a andar mais rápido.
Para especialistas, um dos segredos da escuderia é justamente a eficiência do sistema de recuperação de energia, algo aprofundado na mudança do regulamento de 2014. “Todo o sistema é agora capaz de operar de forma mais eficiente e ajudar no desenvolvimento da energia ao longo de uma corrida”, comenta Cowell.
O domínio da Mercedes é um marco no automobilismo e parece distante de ser alcançado por qualquer outra equipe pelo menos até 2021, ano da próxima mudança grande no regulamento técnico da Fórmula 1. Mas não é só o dinheiro e a tecnologia que explicam esse poderio.
“A Mercedes tem gestão de pessoas e equipamento. A Ferrari de dois em dois anos troca de chefe. Por isso, sofre para melhorar a equipe”, explicou William Lube, chefe das equipes Cimed Racing e Crown Racing na Stock Car. “Quando tem uma equipe que funciona 100%, mesmo se não tivesse o melhor carro, sairia na frente por trabalhar bem”, avaliou o engenheiro francês Manu Hugon, que também trabalha na Stock Car.
SEGREDO – Além do sucesso nas pistas, a Mercedes tem o êxito de proteger os segredos do eficiente motor. Os engenheiros evitam dar detalhes e os pilotos são genéricos nas explicações técnicas após as corridas para evitar que as preciosas informações sejam copiadas por outros.
“As pessoas e os fãs tentam encontrar alguma coisa, seja no pneu ou em outro componente para explicar seu rendimento. Há muita suposição. Não dá para saber um dado técnico deste tipo. Às vezes até dentro da equipe tem restrição a essas informações sigilosas”, diz Marques.