Mundo das Palavras

Metáforas no Jornalismo


No Jornalismo se valoriza a precisão. Por isto, os Manuais de Redação usados pelos profissionais desta área estabelecem regras assim: “Num texto jornalístico ninguém é muito rico. Se alguém tem muito dinheiro, diga de quanto ele dispõe. Nem é muito alto. Se a altura de uma pessoa ultrapassa o tamanho médio dos brasileiros, diga quanto ela mede. Nem é muito gordo. Se a pessoa parece pesar muito, diga o que a balança registra quando ela pessoa sobe nela.”


Por isto muita gente imagina existir uma completa incompatibilidade entre o modo vago, fluido de um poeta se exprimir e o modo de expressão necessariamente preciso, próprio dos jornalistas. Alguma incompatibilidade inegavelmente existe. Mas não a ponto de impedir um largo uso no Jornalismo de um recurso tipicamente poético: o de metáforas – o recurso de linguagem através do qual se pode trocar o sentido original de uma palavra pelo sentido de outra palavra, quando entre as duas existe aquilo que José Fiorin e Francisco Platão chamam de “intersecção”, em “Para entender o texto”.


Exclusivamente aos poetas, supõe-se, está reservada a possibilidade de criação de uma frase como “Tire o seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor”, em que sorriso é empregado como metáfora de alegria, felicidade, bem-estar, e, dor, como metáfora de sentimentos opostos àqueles. Este belo jogo de contrastes, expresso metaforicamente, foi criado por Guilherme de Brito para um samba de Nelson Cavaquinho.


No entanto, basta uma leitura atenta dos textos de jornais e revistas para percebermos a presença insinuante das metáforas nele. Os jornalistas da área de Política, por exemplo, mencionam em seus textos a “fritura” do ministro, e, o “trem da alegria” do Congresso Nacional. Os da área de Economia referem-se à política econômica “feijão com o arroz” de um antigo ministro, e, à “corda bamba” em que se encontraria a economia do Brasil. Há algum tempo, um jornalista da área de Espetáculos escreveu que a Rede Globo “engatilhou” “um tiro certeiro” na “guerra” por audiência com a SBT.


O que fazem tantas metáforas dentro de textos como estes? É óbvio: não só tornam, rapidamente, estes textos compreensíveis como garantem prazer a quem os lê. Dão, portanto, duas contribuições nada desprezíveis à elevação da qualidade deles.


 

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