As forças de segurança de Mianmar abriram fogo neste domingo contra uma multidão que compareceu ao funeral de um estudante morto no sábado, dia mais sangrento da repressão aos protestos contra o golpe do mês passado, informou a mídia local. A escalada da violência – que tirou a vida de pelo menos 114 pessoas no sábado, incluindo vários menores de 16 anos – levou um especialista em direitos humanos das Nações Unidas a acusar a junta de governo de cometer "assassinato em massa" e a criticar a comunidade internacional por não fazer o suficiente para impedi-la.
O veículo local Myanmar Now relatou que as tropas da junta militar atiraram contra os enlutados no funeral na cidade de Bago para Thae Maung Maung, um jovem de 20 anos morto no sábado. Ele supostamente seria um membro da Federação de Estudantes de Toda a Birmânia, que tem uma longa história de apoio a movimentos pró-democracia no país.
Segundo a reportagem, várias pessoas que compareceram ao funeral foram presas.
Não foi informado se alguém ficou ferido ou morreu com os tiros. Mas pelo menos nove pessoas foram mortas em outros locais no domingo, enquanto a repressão continuava, de acordo com a Associação de Assistência para Presos Políticos, que registra mortes durante as manifestações contra o golpe.
Alguns dos funerais realizados no domingo se tornaram oportunidades para
demonstrar resistência à junta. Em uma cerimônia em Bhamo, no Estado de Kachin, ao norte, uma grande multidão cantou slogans de democracia e levantou a saudação de três dedos que simboliza o desafio ao golpe. Família e amigos estavam prestando respeitando a Shwe Myint, de 36 anos, que foi morta a tiros pelas forças de segurança no sábado.
Os militares inicialmente apreenderam seu corpo e se recusaram a devolvê-lo até que a família assinou uma declaração de que sua morte não foi causada por eles, de acordo com a Voz Democrática da Birmânia, um serviço de transmissão e notícias online.
Em Yangon, a maior cidade do país, enquanto isso, os enlutados exibiam a saudação de três dedos enquanto empurravam o caixão de um menino de 13 anos. Sai Wai Yan foi morto a tiros pelas forças de segurança enquanto brincava fora de sua casa.
O número de mortos no sábado excedeu em muito o recorde anterior em um único dia, de 90 em 14 de março. Os assassinatos aconteceram em todo o país à medida que os militares de Mianmar celebraram o feriado anual do Dia das Forças Armadas com um desfile na capital do país, Naypyitaw.
"Hoje a junta de Mianmar fez do Dia das Forças Armadas um dia de infâmia como massacre de homens, mulheres e crianças muito pequenas em todo o país", disse Tom Andrews, especialista independente da ONU em direitos humanos em Mianmar. "Palavras de condenação ou preocupação estão francamente soando vazias para o povo de Mianmar enquanto a junta militar comete assassinato em massa contra eles. Já passou da hora de uma ação robusta e coordenada."
A Conselheira Especial da ONU para a Prevenção do Genocídio, Alice Wairimu Nderitu, e a Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, disseram que "ações vergonhosas, covardes e brutais dos militares e da polícia – que têm sido filmados atirando em manifestantes enquanto eles fogem e que nem mesmo pouparam jovens – devem ser interrompidas imediatamente".
O Conselho de Segurança da ONU condenou a violência, mas não defendeu ação contra a junta, como a proibição da venda de armas. China e a Rússia são os principais fornecedores de armas para os militares de Mianmar, bem como politicamente simpáticos ao país, e como membros do conselho quase certamente vetariam qualquer movimento desse tipo. Fonte: Associated Press.