A abertura do processo de impeachment teve o apoio de seis dos 11 senadores que integraram o primeiro escalão das gestões petistas a partir de 2003. Os votos pelo afastamento de Dilma Rousseff vieram de ex-ministros de PMDB, PRB e PSB, partidos que formalizaram o rompimento definitivo com o governo em março, com o agravamento da crise política e a perspectiva real de que Michel Temer ascendesse ao comando do País.
Alguns dos ocupantes mais longevos da Esplanada na era petista se alinharam contra Dilma, a exemplo de Edison Lobão (PMDB-MA), que chefiou o Ministério de Minas e Energia (MME) de Lula entre 2008 e 2010 e da sucessora dele entre 2011 a 2015. Investigado na Operação Lava Jato, tema recorrentemente citado na histórica sessão, ele se dizia indeciso até a véspera da decisão.
Na tribuna, argumentou ter de cumprir a legislação do País: “Não vim aqui para tripudiar sobre uma gladiadora ferida. Vim para o cumprimento do dever a que me obriga a Constituição da República. O voto que darei nesta manhã não é pelo impeachment da Presidente da República, mas pela admissibilidade do processo de investigação proposto”.
A mesma posição assumiu Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), que comandou a Previdência de 2011 a 2015, durante todo o primeiro mandato de Dilma. Foi nesse período, especialmente a partir de 2013, que se acentuaram às críticas à contabilidade criativa do governo, base formal do pedido de afastamento.
Ao discursar, ele alegou que não entrou no governo petista por convicção pessoal, mas para cumprir uma missão partidária que nunca buscou. “Disse logo de saída: vou assumir um abacaxi. E esse abacaxi permanece”, comentou peemedebista. O peemedebista sustentou que há evidências de crime de responsabilidade nas práticas contábeis do governo. Ao fim de seu discurso, saudou a “eventual” gestão Temer.
Ex-ministra do Turismo na gestão Lula (2007 a 2008) e da Cultura no governo Dilma (2012 a 2014), Marta Suplicy (PMDB-SP) foi uma das primeiras a ocupar a tribuna do Senado ainda na manhã de quarta-feira, 11.
Defendeu o governo Temer e, ante a perspectiva de embates com a nova oposição, formada pelo PT e partidos aliados, propôs uma agenda pacificadora para o futuro. “Por São Paulo e pelo Brasil, o meu voto é sim”, anunciou, logo depois de afirmar que “há indícios suficientes de crime de responsabilidade” praticado pela presidente.
Marta fez carreira política no PT, mas deixou o partido em abril do ano passado e migrou para a oposição, com o discurso de que a gestão Dilma perdera o rumo. A decisão veio depois de ela não conseguir o apoio da legenda para concorrer à prefeitura paulistana este ano.
O processo de impeachment também teve o “sim” de Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), que chefiou a Integração Nacional de 2011 a 2013. O partido dele desembarcou do governo antes das eleições de 2014 para lançar a candidatura do ex-governador pernambucano Eduardo Campos, morto no meio da corrida presidencial. Mas só anunciou a entrada definitiva no campo da oposição em março. “Como se não bastasse a tentativa de mascarar a verdadeira contabilidade do Governo, a falta de diálogo político levou o País a um cenário de ingovernabilidade, tendo a presidente da República perdido autoridade e o apoio político”, declarou Bezerra.
Outro que confirmou apoio ao processo foi o bispo da Igreja Universal Marcelo Crivella (PRB-RJ), que ocupou o Ministério da Pesca de 2012 a 2014 admitindo não saber nem colocar “minhoca no anzol”, mas dizendo-se um “pescador de homens”. “Peço a Deus que sejamos justos, e não justiceiros”, clamou, no plenário.
Os aliados do passado fizeram discursos vacinados contra eventuais questionamentos de incoerência. Demitido por telefone em 2004 pelo então presidente, Cristovam Buarque (PPS-DF), que foi o primeiro ministro da Educação na Era Lula, disse que a revolução social proposta pelo PT foi corrompida por vícios como apego ao poder, assistencialismo, corrupção, incompetência gerencial e aparelhamento do Estado. “Por incrível que pareça, voto pela admissibilidade. Não fui eu que mudei, foi a esquerda que envelheceu. A esquerda que está há 13 anos no poder demonstra desapego à democracia”, justificou.
O senador afirmou haver indícios robustos de que a presidente cometeu crime de responsabilidade, mas ponderou que sua posição final dependerá da investigação que virá com a abertura do processo. “Falta muito ainda para votarmos o impeachment ou não; mas, quanto à admissibilidade, eu creio que o Brasil quer, o Brasil precisa”, declarou.
Ele disse que um dos desafios do Senado será, a partir de uma eventual cassação definitiva, fazer com que a população compreenda as irregularidades que pesam contra Dilma. “Se não explicarmos bem, vai ter um cheirinho de golpe. E isso não é bom para a democracia.”
O peemedebista Eduardo Braga (AM), que deixou a pasta de Minas e Energia no fim de abril, não apareceu para votar.
Fora três ex-ministros do PT – Gleisi Hoffmann (PR), José Pimentel e Humberto Costa (PE) – só Armando Monteiro (PTB-PE) tentou salvar Dilma. Ele deixou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior na última segunda-feira para votar contra o impeachment. Na tribuna, responsabilizou o Congresso por, em alguns momentos, adotar comportamentos que não coadunam com a responsabilidade fiscal ao aprovar projetos que aumentam os custos do governo. E criticou o processo de afastamento de Dilma por se basear num “juízo eminentemente político”, na falta de “pressuposto jurídico”. “Hoje, a lei do impeachment representa um fator de instabilidade do sistema político brasileiro”, avaliou.