Com o mercado brasileiro de veículos apontando para mais uma queda nas vendas em 2016, as montadoras instaladas no País devem fechar mais 20 mil postos de trabalho ao longo do ano, estima a consultoria MA8, especializada em indústria automobilística. Seria a terceira queda seguida do nível de emprego do setor, que eliminou 14,7 mil vagas em 2015 e 12,4 mil em 2014.
Com 20 mil a menos, as montadoras (de veículos e máquinas agrícolas) reduziriam o número total de trabalhadores para 110 mil no fim de 2016 e voltariam a nível próximo de 2006, quando havia 107 mil pessoas empregadas no setor. “Nós só não voltamos ao nível de 2003 (quando havia 90 mil empregados) porque, nesse período, novas montadoras vieram para o Brasil”, explicou o presidente da MA8, Orlando Merluzzi, em referência a empresas como Hyundai e Nissan.
Segundo ele, com as atuais empresas instaladas no País, o setor tem um piso de 105 mil trabalhadores. O emprego, portanto, poderá cair para um nível abaixo desse se as montadoras fecharem fábricas ou deixarem o Brasil. Merluzzi afirmou também que os instrumentos utilizados pelas montadoras para evitar demissões, como o lay-off (suspensão temporária de contratos) e o PPE (Programa de Proteção ao Emprego), não devem se sustentar. Isto porque as medidas são de curto prazo e o setor deve demorar anos para se recuperar. A aposta da MA8 é que o auge de produção alcançado em 2012, de 3,8 milhões de unidades, só seja retomado em 2022.
O número de veículos produzidos enfrentou forte queda em 2015. Caiu 22,8% na comparação com 2014, para 2,429 milhões. Em 2012, o setor apostava que o mercado chegaria a 2016 com um volume de 5 milhões de unidades. No entanto, a restrição ao crédito, o aumento do desemprego e a queda da renda reduziram o consumo e frearam o avanço do setor no Brasil, criando um ambiente de baixa confiança do empresário e pouco amigável aos investimentos.
O auge do emprego nas montadoras foi atingido em 2013, quando havia 156 mil trabalhadores no setor. Desde então, a queda foi de 17,3%. Se outras 20 mil vagas forem fechadas, o recuo acumulado será de 29,9%. Além disso, há os empregos que deixam de ser criados. A inauguração da segunda fábrica da Honda, prevista inicialmente para 2016, deve ficar para 2017. Cerca de 2 mil trabalhadores seriam contratados.
As consultorias já apostam em mais uma queda de dois dígitos na produção do setor em 2016. A GO Associados, por exemplo, espera recuo de 10%, a mesma previsão da Tendências. A Anfavea, no entanto, vai na contramão e aposta em um leve crescimento neste ano, de 0,5%, impulsionado por um aumento de 8% nas exportações. Em vendas, a MA8 projeta baixa de 12% em 2016 ante 2015, quando 2,569 milhões de unidades foram vendidas no Brasil.