Cidades

Moradores de rua preferem praças e vias públicas a albergue

Eles alegam burocracia e restrição na guarda de carroças

Passados mais de 12 meses da ampliação de 60 para 180 vagas, o albergue municipal segue operando abaixo de sua capacidade total. Bom seria se isso acontecesse pelo baixo número de moradores em situação de rua, mas a realidade é que as regras impostas para usufruir do benefício são rejeitadas pelo público alvo, que prefere a "liberdade" das ruas.

E a praça Maurício Hisashi Senday segue como ponto preferido de moradia de mendigos e usuários de drogas. No local, a reportagem flagrou uma mulher e dois homens consumindo crack com o auxílio de uma lata de refrigerante ontem, por volta das 11h, sem que ninguém os importunasse.

Segundo a gerente do único albergue municipal, localizado na rua Harry Simonsen, Cléia Martins Januário, as regras, necessárias para a administração do local, afastam os moradores em situação de rua do estabelecimento. "Nas ruas eles têm colchões, cobertores, alimentação. Temos regras de convivência, lá eles fazem o que querem", define.

Desde a reinauguração do albergue, em dezembro de 2009, a capacidade máxima nunca foi atingida. "Chegamos a 100 pessoas em dias frios ou de chuvas, quando a procura é maior", informa Cléia.

Moradores alegam burocracia

Gérson Lima Barros afirma acreditar que tem 58 anos, que devem ser completados em dezembro. Tão incerto quanto sua idade é o seu dia a dia desde quando chegou da Bahia há seis meses.

O ex-pedreiro é recém "contratado" de seu mais novo parceiro de coleta seletiva, Enerdino dos Santos, 44. Há quatro dias, Lima conta que conseguiu uma oportunidade de ajudar Santos. Mas continua morando nas ruas, "embaixo das marquises fugindo para não tomar chuva", por não conseguir superar a burocracia para entrar no albergue.

"Procurei uma vez só [o albergue], mas a assistente social não sabe conversar. Me disse que eu era um cara forte, que tenho condições de ter uma moradia", relata Lima.

O impedimento está na falta de documentos desde que foi roubado. "Pediram meus documentos e não tenho. Fui até São Paulo, no Colégio Santa Cruz, para tentar tirar cópia de certidão de nascimento, mas me falaram que só conseguem em 60 dias", descreve. "Já fui com o Boletim de Ocorrências e me disseram que não resolve", completa.

Albergue não conta com espaço para guardar carroças

A mais significativa  restrição no albergue é referente a guarda de carroças, já que o espaço é pequeno. Segundo a Prefeitura, em breve haverá a inauguração da Casa do Apoio ao Catador, com espaço para carroças, cachorros e atividades durante o dia para os participantes.

O albergue conta com 160 vagas para o público masculino e 20 para o feminino, destinadas somente para maiores de 18 anos portando documentos de identificação ou boletim de ocorrência comprovando a perda dos mesmos. O horário de entrada é a partir das 17h e a saída às 8h. Os albergados tem direito a um armário para guardar pertences pessoais, quatro refeições, material de higiene, biblioteca, sala de tevê, atendimento socioassistencial, roupas, cursos de qualificação profissional e encaminhamento para entrevistas de emprego.

Segundo a Prefeitura, em breve haverá a inauguração da Casa do Apoio ao Catador, com espaço para carroças, cachorros e atividades durante o dia para os participantes. O albergue ainda conta com uma equipe de abordagem social que, em casos de reclamações da população sobre a presença de pessoas em situação de rua, nossa equipe vai até o local oferecer os serviços que dispomos.

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