Estadão

Moro fala como candidato, prometendo força-tarefa contra pobreza e corrupção

Na tentativa de se distanciar da figura do presidente Jair Bolsonaro, em seu discurso de filiação ao Podemos, o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sergio Moro reforçou as críticas à atual gestão do governo e provocou o chefe do Executivo ao mencionar temas como as "rachadinhas" – esquema de corrupção que incomoda o presidente devido às investigações contra um dos seus filhos, Flávio Bolsonaro – e defender a imprensa. Com uma fala de plano de governo, Moro mirou as eleições de 2022 e abriu seu leque, além da corrupção, para pautas nacionais.

Sem abandonar o discurso contra corrupção, sua maior aposta, Moro adicionou as pautas que considera prioritárias, como o combate à pobreza, o olhar para o meio ambiente e a economia. Moro prometeu a criação de uma força-tarefa de combate à pobreza, ressaltando que esta, permanente, não teria "interesses eleitoreiros", além da criação de uma corte nacional contra corrupção.

"Chega de corrupção, chega de mensalão, chega de petrolão, chega de rachadinha. Chega de querer levar vantagem em tudo e enganar a população", afirmou, no evento de filiação, que ocorreu em Brasília, em um claro recado para o presidente Bolsonaro e para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seus prováveis adversários na disputa pela Presidência. Segundo ele, "se o Brasil está parado e não vai adiante, não é porque não sabemos o que precisamos fazer"."Ninguém tem dúvida de que precisamos melhorar a vida das pessoas. Todo mundo também sabe que quem desvia dinheiro público tem que ser punido e não premiado", afirma.

Na pauta da sustentabilidade, Moro destacou que o futuro do mundo depende da preservação do meio ambiente e reforçou que a imagem internacional do País com relação ao tema está "péssima". "Infelizmente, fizemos tudo errado nos últimos anos", disse, declarando que a relação do País sobre o tema precisa ser "consertada". "O Brasil deve ser o líder e o orgulho do mundo na economia verde e sustentável", pontuou

Em seu projeto econômico, Moro destaca que o País não vai bem e se encontra no "rumo errado". "Não falo por ser pessimista", disse, citando que "desde a época do governo do PT, o desemprego começou a crescer e não parou". Segundo ele, ao mesmo tempo em que houve o aumento da pobreza, os avanços no combate à corrupção também perderam força.

O ex-ministro estendeu o escopo a defesa de uma agenda mais liberal. "Defendemos o livre mercado, a livre empresa e a livre iniciativa, sem que o governo tenha que interferir em todos os aspectos da vida das pessoas" declarou. Moro defendeu a reforma do sistema brasileiro de impostos, o qual classificou como "confuso". "Precisamos privatizar estatais ineficientes. Precisamos abrir e modernizar nossa economia buscando mercados externos", disse.

Como tentativa para ampliar sua distância em relação a Bolsonaro, Moro garantiu que jamais vai propor medidas de controle à liberdade de imprensa. "Chega de ofender ou intimidar jornalistas. Eles são essenciais para o bom funcionamento da democracia e agem como vigilantes de malfeitos dos detentores do poder. A liberdade de imprensa deve ser ampla. Jamais iremos estimular agressões. Jamais iremos propor o controle sobre a imprensa, social ou qualquer que seja o nome com que se queira disfarçar a censura e o controle do conteúdo", declarou.

No discurso que se estendeu por 49 minutos, o ex-ministro afirmou que seu projeto é "forte, vigoroso, mas não é agressivo". "Eu não poderia e nunca vou abandonar o Brasil", afirmou.

"Nenhuma pessoa pode ter um projeto só para si mesmo. Ninguém existe só para si mesmo. Para isso, resolvi entrar na vida política e filiar-me ao Podemos, um partido que apoia as pautas da Lava Jato. Mas esse não é o projeto somente de um partido, é um projeto de País aberto para adesão por todos os demais partidos, pela sociedade brasileira, do empresário ao trabalhador, por todo cidadão e cidadã brasileiros. É o seu projeto, que estava aí, aguardando o momento certo. Chegou a hora."

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