Uma nota breve sobre o começo da Mostra 2017, na quarta-feira, 18, no Auditório Ibirapuera. O homenageado, Ai Weiwei não veio, com perdão da assonância. Teve problema com o visto brasileiro para embarcar em Nova York. Tudo resolvido, deve chegar entre esta quinta e sexta-feira.
Bem, mas veio seu filme Human Flow – Não Existe lar se Não Há para Onde Ir. Antes dele, o atraso regulamentar de uma hora, muitos discursos e um começo de vaia no secretário de cultura do município, André Sturm, logo abortada por uma bronca da diretora da Mostra, Renata de Almeida, na plateia insubordinada.
Veio o filme. Algumas imagens belíssimas, aéreas, tomadas por drones. Imagens e falas de dor, daqueles que não encontram residência no mundo. Refugiados da guerra, da fome, da intolerância. É um longo (2h20) inventário das mazelas da humanidade, sem qualquer tentativa de diagnóstico ou repouso.
O próprio Weiwei aparece muito em cena, ajudando as pessoas, as entrevistando, consolando. Entrevista também “especialistas”, pessoas que falam sobre os refugiados. Enfim, é um panorama do atual estado das coisas do mundo, em que o progresso trouxe riqueza e muita desigualdade. Quando isso acontece, as migrações se intensificam, até pelo princípio dos vasos comunicantes, com as sociedades afluentes atraindo pessoas que não têm condições de sobreviver em seus países de origem. Isso sem contar nas guerras (muitas delas motivadas por intervenções imperialistas, como a do Iraque), fundamentalismos e outros “ismos” que a humanidade inventou para atormentar a si própria.
É um filme terno, forte, necessário, de utilidade pública, que padece, porém, de falta de foco. Uma montagem mais rigorosa o melhoraria. Nessa dispersão, vai cansando a plateia e, talvez, a insensibilizando, o que é o contrário do que pretende.