Com homenagens a Tom Jobim (morto há 20 anos), canções marcantes, histórias relembradas com bom humor, elogios mútuos e temas profundos em forma de canção e valiosas contribuições para se pensar sobre música, Zé Miguel Wisnik (ao piano) e Guinga (violão) abriram a 4ª Mostra Cantautores, segunda, 8, no Teatro Oi Futuro Klauss Vianna, na capital mineira. Antes deles se apresentaram os promissores Rafael Martini (pianista, compositor e arranjador mineiro) e Pedro Carneiro (compositor, violinista e produtor carioca).
Parceiro e discípulo de Guinga, Carneiro voltou ao palco para cantar com ele a intrincada Nítido e Obscuro. “O bom da música brasileira é que a gente pode atirar pra tudo quanto é lado”, disse Guinga. Carneiro faz isso de maneira surpreendente: traz em seu toque de violão a cadência do samba sincopado, a tradição do bom humor de cronistas urbanos como Noel Rosa nas letras narrativas e até algo do estilo do baiano Elomar. “Isso é uma maravilha. A gente vê que há jovens seguidores de milhares de gênios da humanidade, que tem público pra isso, gente interessada, emocionada. É isso que faz a gente lutar cada dia e ter esperança”, afirma Guinga, depois do dueto com Carneiro.
Ele apresentou em grande parte do show canções com os parceiros mais constantes (Aldir Blanc e Paulo Cesar Pinheiro) e comoveu com a pungente interpretação de Você Você (parceria dele com Chico Buarque), recebeu o paulista Pedro Iaco, lembrou de encontros com Wisnik (que voltou ao palco para cantar com ele Ilusão Real, dos dois) e desafiou o parceiro a colocar letra em uma composição inédita.
Wisnik abriu e encerrou sua apresentação entoando parcerias com Jorge Mautner: É Tempo Sem Tempo, uma daquelas canções “derramadas e sentimentais”, como ele exemplificou em sua aula-show, e a recente Consciência do Limite, em ritmo de funk carioca. Disse que nunca se identificou direito com a palavra “cantautor”, importada da Itália e de países de língua espanhola. “Luiz Tatit fala cancionista, que é uma palavra mais geral e que talvez sirva de todo modo pra essa pessoa que está às voltas com isso, a sílaba voadora. O cantor está armado do canto, dos recursos, das técnicas, legitima o cantor o domínio que ele tem da voz. O cantautor está dando o testemunho de uma coisa que só ele pode fazer, independentemente dos grandes intérpretes que cantem as músicas que ele faz, porque é como se ele soubesse alguma coisa do modo como se juntaram as palavras com a música.”
Idealizada pelos artistas da música mineira Jennifer Souza e Luiz Gabriel Lopes, a mostra segue até domingo com encontros e shows de compositores como Sérgio Santos, Tiganá Santana (baiano dono de bela e profunda voz), Pablo Castro e Thiago Amud, entre outros, na Funarte MG e na Casa Uma de Cultura, além do Oi Futuro.
O REPÓRTER VIAJOU A CONVITE DA PRODUÇÃO DO EVENTO